#15-Governança de Dados ou Governança de Informações?
Com a evolução dos conceitos sobre como gerenciar os dados,
algumas dúvidas semânticas se mostram recorrentes: É sobre Dados ou sobre
Informações que pretendemos implementar um programa de Governança? Embora haja
definições diferentes para dados(estrutura elementar da cadeia informacional,
que será transformada em informação no patamar seguinte) e informação(semântica
e contextualização dos dados para geração de fatos), a governança de dados tem
se confundido com a governança de informações, quando a visão é o controle
desses recursos. Se analisarmos a literatura mais recente sobre os dois temas
vamos notar que há livros, por exemplo,
com títulos com as duas definições. Entretanto se você mergulhar nos conteúdos
deles(já fiz isso em vários) vai
observar que a temática é absolutamente a mesma. Numa pesquisa rápida na Amazon
(Janeiro/2016) encontramos aproximadamente 20 livros com títulos contendo as
palavras “Data Governance” e uns 7 ou 8 com as palavras “Information
Governance”. Esses últimos, estão na maioria das vezes associados com aspectos
de riscos, segurança, “aderência/compliances” e litígios em aspectos de dados,
conforme mostram também alguns artigos do Gartner Group, disponíveis na
internet. Isso, entretanto não conduz a nenhuma conclusão definitiva, na medida
em que contextos de riscos, segurança de dados, etc também se encontram expressos
nos modelos DAMA e DMM, por exemplo, centrados na palavra “Data”. No Brasil há
publicados dois livros que versam sobre esse tema e ambos usam a expressão
“Governança de Dados”. O primeiro , de minha autoria (BI2-Modelagem e
Qualidade), lançado em 2011-Editora Elsevier, embora com o título sobre BI2-Inteligência
de negócios, tem um capítulo todo dedicado ao tema (Governança de dados). O
outro, de autoria de Bergson Rego, de 2013, da Editora Brasport, tem o seu conteúdo
diretamente atrelado à Gestão e Governança de dados. Outros livros sobre
Governança de Dados, como o de David Plotkin (Data Stewardship-An actionable guide to effective data management
and data governance -2014), discutem e apontam os diferentes tipos de data stewards(gestores
de dados), atuando em todas as fronteiras
da empresa. Há os enterprise data stewards, businesss data
stewards, domain data stewards, project data stewards, technical data stewards
e operational data stewards. Isso,
de certa forma, demonstra que o conceito de gestor de dados, inseparável do de
governança de dados, perpassa os diversos segmentos da empresa, indo do negócio
ao operacional. A própria DAMA-Dama Management Association, tem no “core” do
seu diagrama, o conceito de Governança de dados. Os modelos de maturidade, como
DMM do CMMI Institute, também tem uma categoria de Governança de dados, com um
processo chamado Gerência de Governança. Alguns autores internacionais, como
Sunil Soares, têm livros nos dois lados: há o “Big Data Governance”, da MC Press-2012,
mostrando a influência da palavra Big em conjunto com governança de dados. Há
também outro, cujo título é “Selling
Information Governance to the Business”, da MC Press-2011, já com o uso de “governança”
acoplado com a palavra “Information”. Com o surgimento dos grandes
volumes produzidos na sociedade digital, houve a então criação da “Big Data Governance”,
mantendo a tendência para o lado “data”. Não há publicação ou referências sobre “Big Information Governance”. O
surgimento dos CDO-Chief Data Officers, como papéis que objetivam a gestão e
governança dos dados de toda organização, trazendo no seu título a palavra
“data”, também ilustra a percepção de que o sentido de dados governados é amplo
e abrangente chegando, na realidade, até às informações, no segundo degrau da
escala dado-informação-conhecimento e sabedoria. Há entretanto alguns autores que
acentuam a diferença entre as duas linhas, advogando uma abordagem separada. A
argumentação é, de forma reduzida, que
quando há um sabor mais voltado para o “negócio”, estaríamos falando de
“Governança de informações” e quando estivermos falando de “tecnologia”,
estaríamos com “Governança de dados”. Expandindo-se, pode-se dizer que caso estejamos
definido Políticas para uso adequado (dos dados), seu valor de negócios, sua
semântica em glossário de negócios, o seu ciclo de vida com definições sobre
retenção e “disposal”, análise de riscos
pertinentes ao seu uso/retenção indevida, aspectos de “compliance/aderência” com
entidades regulatórias , litígios em
função de dados, além de “ownership” da informação, o domínio seria da “Governança
de informações”. Se, por outro lado o foco fosse um pouco mais físico, operacional,
preparatório e basal, como políticas sobre metadados, linhagem, qualidade/limpeza,
de-duplicação, níveis de serviços, segurança, impactos de mudanças, etc, o caso estaria no âmbito da Governança de
dados. Essa divisão tem sobreposições claras, com alguns pontos morando na
interseção dessas duas fronteiras: Os aspectos de segurança e privacidade
circulam nessa região, bem como outros pontos como mapeamento de dados/metadados e retenção e
eliminação de documentos com armazenamento/ operações de dados.
Essa dicotomia tem aspectos positivos pois estratifica uma
visão processual em duas camadas diferentes, mas exige alguns cuidados. O
perigo dessa estratégia é que ela venha
a sugerir estruturas funcionais e papéis diferentes, o que pode, no início,
dificultar a adoção do Programa de Governança. Se a implementação de Governança de dados(numa
visão mais abrangente/holística) já é um desafio muito grande, imagine
implementar as duas governanças em sabores diferentes, caso haja a necessidade
de separação estrutural/funcional. No resumo da ópera, em prol da praticidade, o
conceito de dados e de informações, no contexto de Governança e gestão, deve,
na minha visão, ser inicialmente intercambiáveis. Pode até haver processos
diferentes, como certamente haverá, mas tudo estaria sob o cone de uma única
Governança de Dados inicial. Empresas mais amadurecidas, talvez numa segunda
geração de DG (Data Governance) poderão separa-la, criando uma estrutura de IG(Information
Governance). Lembre-se que a nossa área de Informática é uma das linhas da
ciência mais prolificas na criação de novos vocábulos. A TI sofre de “vocabulite
semântica em grau elevado”. Muito disso se dá, pela necessidade de se produzir
certos tons de diferenças, o que na nossa indústria de consultoria e
aconselhamento tecnológico , pode significar indução a novidades ou
oportunidade de negócios e não necessariamente diferenças significativas a
serem observadas. Pense nisso, pense prático...
Referências:
1-Differences between Information
Governance and Data Governance-You Tube, disponível em : www.youtube.com/watch?v=CpohoQcApoc. Acesso em 11 jan. 2016.
2-Informatica Blog, disponível em :blogs.informatica.com/2014/09/03/information-governance-vs-data-governance-who
cares/#fbid=PdxJV4o2rcm. Acesso em 11
jan. 2016.
3-Plotkin, D. Data Stewardship-An actionable guide to effective data management and
data governance. MK-Elsevier, 2014.
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