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sábado, 26 de setembro de 2009

MG e a vocação pela qualidade de software

As montanhas de Minas são emblemáticas no seu silêncio e na forma contemplativa com que nos observam a todos. Esse Estado das alterosas, circundado por elas, aprendeu com as forças das montanhas, que obstáculos são elementos que vivemos para ultrapassar. Isso sempre nos fez bem. Aprendemos também, por influência delas, que devemos nos comportar praticando o seu silêncio. Isso nem sempre nos fez bem. É nessa combinação de força e silêncio que, por certo tempo, a nossa informática se colocou numa discreta posição de sétimo ou oitavo lugar, enquanto o nosso PIB se posicionava em segundo ou terceiro. Simples: temos uma competência em Informática espessa, porém difusa e silenciosa. Ha vinte e poucos anos, a Índia, resolveu incluir na sua história, algo mais do que os palácios suntuosos e a sua miséria obscena. Resolveu que seria uma das melhores alternativas, se não a melhor opção de engenharia de sistemas do planeta. Está a caminho, quase chegando lá. Pelos quatro cantos do planeta já se ouve a sua voz e já se fala da sua competência. Antes da novela das oito, a Índia já era conhecida pela sua força na construção de software. Em Minas, estamos iniciando um movimento bem mais modesto, mas à altura das nossas montanhas. Com as suas forças, mas sem a sua mudez. Estamos nos preparando para fazer desse estado um participante ativo e notado no campo da informática, principalmente na esfera da qualidade de software. Em 2005, os números estimados de certificações CMM e CMMI, apontavam que SP tinha aproximadamente entre 22 a 24 certificações. O RJ possuia em torno de 4 a 6 , o RS possuia entre 4 a 6 , o DF possuia em torno de 2 ou 3 , PE possuia 3 e a Bahia 1 , ES 1, CE 1 e Minas Gerais possuía uma única certificação. A certificação solitária de Minas Gerais, pertencia a um conceituado Instituto de ensino, pesquisa e desenvolvimento em Telecomunicações, localizado em Santa Rita do Sapucaí (INATEL). A partir daquele instante , uma engenharia de software mais aplicada, começou a mudar os números por aqui nas Alterosas. As empresas começaram a buscar melhor qualidade nos seus processos e a investir em métodos formais de qualificação. Começamos com a Spress Informática(N2), depois veio a MSA-Infor, hoje Spread(N2), depois a Unisys-BH(N5) e depois novamente a Spress(N3), a MSA-Infor(N3), e a Squadra(N2) . Naquele mesmo momento, começava a nascer o MPS.BR, o modelo brasileiro equivalente ao CMMI, desenvolvido e apoiado pela Softex-Associação para Promoção da Excelência do Software Brasileiro, que oferece programas de apoio ás empresas interessadas em melhoria de processos. Por iniciativa da SECTES e FAPEMIG, a Fumsoft criou o CCOMP.MG, célula dedicada ao desenvolvimento de conhecimentos na área de Engenharia de Software, com foco em MPS.BR e CMMI. Hoje, temos em MG, em números de setembro de 2009, 29 certificações, num total de 150 no Brasil. O estado de MG ocupa a segunda posição, logo atrás de SP, que tem 35 certificações. A primeira empresa com certificação dupla CMMI e MPS.BR, a Synos Technologies é também de Minas Gerais. A primeira empresa que mescla MPS.BR com metodologias ágeis, em níveis mais elevados de maturidade, deverá ser daqui também(Powerlogic). E outras tantas, cujos nomes não caberiam nestas linhas. Esse alcance vai muito além de um trabalho competente das empresas , de suas diretorias e de seus empregados. Ela mostra que MG está se preparando para mudanças definitivas. A Fumsoft-Sociedade Mineira de Software, através do CCOMP.MG tem desenvolvido , com apoio da Governo do Estado e Softex , um trabalho que se materializa nesses números. No próximo dia 8/10, no Inovatec, lançaremos o G7(sétimo grupo de empresas, em busca de patamares de excelência em software). Já realizamos a implementação em 3 grupos já terminados(apoiados diretamente pela Sociedade Softex), e mais 2 estão em fase final de avaliação. O G6, iniciado em Maio de 2006, e o G7, a ser lançado em outubro, terão o apoio direto do Governo de Minas Gerais, via o APL de Software. O Governo de Minas Gerais trouxe, para dentro de seu projeto estruturador, o conceito de qualidade de software. Temos agora em BH, quem possa nos dizer de viva voz, como se chega ao nível 3(CMMI) ou C(MPS.BR) de um processo que visa a troca do artesanato de software pela engenharia de sistemas. Temos, cada vez mais, exemplos locais a serem dados nas salas de aula , sem termos que importá-los, do exterior ou do interior. Os nossos alunos de graduação e de pós poderão, a partir de agora, citam as as empresas que começaram a construir uma história de sucesso, apostando na qualidade como elemento diferencial. Esperamos que até o fim deste ano mais 2 ou 3 empresas subam de patamar e coloque Minas Gerais com 31 ou 32 certificadas em MPS.BR, nos posicionando,cada vez mais, próximos da locomotiva paulista. E dessa forma , o nosso Estado estará iniciando um novo rumo, as empresas mineiras mudandoos seus caminhos e Minas não mais trabalhará em silêncio.

domingo, 13 de setembro de 2009

Pega na mentira

Artigo publicado em setembro de 2002

Zico está no Vasco, com Pelé. Minas importou do Rio, a maré. Esses versos, deliciosamente ingênuos, escritos pela dupla Roberto e Erasmo Carlos, em um dos muitos hits dos anos 90. parecem ganhar contornos de maior consistência nas teias da WEB, em 2002. Depois de muito torpedearem os internautas com explosivas pesquisas de informação a respeito de dados pessoais, os seus propositores chegaram a seguinte conclusão : os dados coletados de muito pouco servem, pois estão recheados de “fib”, mentirinhas inconseqüentes, como dizem os americanos., e dessa forma, invalidam quaisquer decisões apoiadas neles. Estima-se que 42% das respostas na internet, envolvendo idade e salário, por exemplo, são falsas. E esse próprio valor, pode ser, recursivamente, uma inverdade, pois a real percentagem de “fib” pode ser muito maior. Com o objetivo de colocar uma espécie de detector digital de “fib” na WEB, no melhor estilo “pega na mentira”, a IBM está se utilizando das técnicas de Data Mining, desenvolvidas nos seus laboratórios de Almadén, na Califórnia. A idéia passa pela aplicação iterativa de algoritmos elaborados, sobre uma amostra de dados, onde certas informações potencialmente falsas(como idade) são substituídas por números randômicos, definidos em certas faixas. Posteriormente, por análises graduais e subseqüentes, esses “ruídos” introduzidos poderão indicar a distribuição real das variáveis ausentes, com alto grau de precisão. Esses métodos, denominados de “perturbação randômica” tem como vantagem a possibilidade de se preservar informações indesejadas de serem fornecidas, satisfazendo uma demanda por maior privacidade. Essa abordagem de se retirar dados de uma amostra, colocar “ruídos” no seu lugar e depois partir para a reconstrução de sua curva realista de distribuição não é novidade e tem longa história na ciência estatística, onde estão fincadas as técnicas de Mining. As mesmas técnicas de Mining que com as ferramentas que as implementam, ainda carecem de maior visibilidade de mercado, quando comparadas com as de OLAP, suas irmãs na família de BI. O mercado de Mining, ainda com alto grau de fragmentação, se divide em ferramentas mais genéricas, independentes de aplicação, (IBM Intelligent Miner, SAS Enterprise Miner e Clementine da SPSS), normalmente as mais conhecidas. Depois aparecem as ferramentas específicas por algoritmos, concentradas em técnicas particulares, voltadas para problemas específicos(CART, Knowledge Seeker e Alice). Seguem as ferramentas voltadas para aplicações específicas, como CRM, relacionamento de mercado e previsão de churn (IBM Intelligent Miner, com segmento para CRM e SLP Infoware para churn prediction). Finalmente existem as ferramentas embutidas em pacotes de BI, como o Business Miner da BO-Business Objects, as árvores de mining do Analysis services da MS e o Miner da Oracle, entre outros. As ferramentas de mining, diferentemente das de Olap, requerem maior especialização no uso, critérios mais definidos na formulação do problema e até maiores investimentos, dependendo do volume de dados e da complexidade do projeto. Daí, a sua posição ainda tímida, que em tese poderia até deslanchar agora, com a demanda crescente por garimpagem de dados maquiados , grande moda do verão capitalista de 2002. Mas é pouco provável . Afinal os novos algoritmos da IBM estão ajustados para detecção de pequenas inverdades e não alcançaram o estágio sofisticado de percepção das grandes ficções contábeis de 2002...

sábado, 5 de setembro de 2009

Tecnologia dá saudade?

Publicado em dezembro de 2001, adaptado em 2009

Recentemente, por ocasião da visita do presidente da Microsoft ao Brasil, li nos jornais e ouvi de algumas pessoas, referências de saudades ao Word 2.0. Sempre entendi que música e perfume, além de pessoas, eram os ícones clássicos apontados como grandes acionadores das pequenas usinas de saudades que trazemos dentro de nós. Agora, pelo jeito, percebo que chegamos à saudade digital, onde sentimos falta da proximidade de certos códigos ultrapassados. Claro que as benesses tecnológicas que aprendemos a praticar ao longo da vida , por vezes criam certas relações de proximidade com as nossas preferências íntimas, e na informática , não seria diferente. Particularmente, neste caso, não me lembro com saudade do Word 2.0 e me confesso satisfeito com o atual, onde batuco essas mal traçadas linhas. O Gartner Grupo, tem uma curva interessante que mostra como as tecnologias nascem e passam por estágios diversos ao longo do seu ciclo. A análise do GG mostra que toda tecnologia tem um comportamento interessante . Começa numa fase de grande “frisson” , onde um disparo(trigger) a impulsiona numa curva ascendente em direção ao pico de entusiasmo, caracterizado por expectativas sempre infladas com relação aos seus resultados. Neste momento, começa a sua inflexão em direção a uma região de tempo-espaço chamado vale da desilusão, para depois ter um retomada mais consciente e menos inflamada em direção a um platô de convivência, onde terminará os seus dias. O Gartner não previu a fase de saudade que as tecnologias produzem depois do seu necrológico, mas brilhantemente mapeou as etapas de algo que lembra o casamento padrão. As grandes empresas, que debutaram nos anos 60 no cenário da Informática, estão neste momento em constante exercício de despedida de tecnologias , algumas já com fortes traços de bolor. No nosso caso, estamos preparando para redesenhar o vital sistema de sistema de Consumidores, depois de uma infrutífera incursão, em busca de um ERP que o substituísse. Nada encontrado, partimos para a lanternagem doméstica. O sistema, clássico dos anos 70, totalmente escrito em PL/1 e com as suas estruturas de dados montadas nas hierarquias do velho IMS, receberá um banho de modernidade digital e irá se alojar nas telas acrílicas da interface gráfica e nas estruturas relacionais do DB2, embora ainda persistentes inquilinas do velho e indivisível mainframe. Parte de sua competência sistêmica de performance e desempenho, obtida pelos artesãos da época(analistas e programadores) ficará agora sob a responsabilidade de máquinas mais poderosas e de discos inteligentes, numa alusão clara ao fim de uma época, onde o analista sobrepujava a tecnologia. Hoje, muito daqueles esforços que eram concentrados nos códigos de programas, já vem embutidos em caches de discos, otimizadores de bancos de dados e objetos encapsulados. Ponto para a tecnologia e saudade dos fluxogramas e modelos detalhados. A recente onda de substituição de sistemas antigos por ERP produziu muitos descartes desses tipos de códigos, dando vez ao enlatado digital que agora habita as nossas libs. Como a saudade por tecnologias de ontem pode sugerir senilidade digital, prefiro exercitar a saudade de outros códigos. Que tal sentir falta dos códigos de tolerância, de dignidade e de retidão outrora praticados?. Os de hoje, adaptados pelos políticos, vivem em constantes interrupções por erros e com freqüentes não conformidades de processos......