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sexta-feira, 31 de julho de 2009

Ícones da Tecnologia da Informação

Publicado em Maio de 2001

Sempre que alguma tecnologia emerge no cenário verde dólar da Informática é comum observar, atrelada a ela, certos ícones que lhe conferem substância e credibilidade. O uso forte de orientação a objeto por uma grande empresa americana de automóveis, ou as aplicações de DB2 de uma poderosa instituição bancária européia foram alguns desses símbolos apresentados e decantados em seminários e conferências e gestados pela referência positiva de suas implementações. Alguns exemplos, entretanto, gravitam na tênue fronteira entre a realidade e o exagero bem intencionado dos homens de marketing. O tão citado exemplo da cerveja e fralda, exemplificado à exaustão em seminários de BI, Mining e outros assuntos correlatos, chegou a ser objeto de uma avaliação de veracidade por parte de uma revista americana, que concluiu mais pelo excesso de imaginação mercadológica do que pelas forças associativas de produtos(cerveja e fralda), dias(quintas feiras) e pais americanos. No cenário de Data Warehouse, o maior e mais significativo ícone é a implementação do grande armazém de informações da rede mundial de supermercados, hoje presente também no Brasil: Wall Mart. Considerado como o maior DW do planeta, a gigante americana de varejo continua sendo alvo de todos os exemplos citados na mídia. Diferentemente do outro exemplo, este é de bits e bytes. Isto pode ser constatado por quem é do ramo de BI, ou tem curiosidade tecnológica. Basta não perder a oportunidade de ler o livro “Data Warehousing- Using Wall Mart model de Paul Westermann, publicado pela Morgan Kaufmann. O autor, um dos quatro projetistas do planetário armazém de informações da empresa, apresenta de forma didática e profunda a história , alguns modelos, a tecnologia utilizada e uma série de observações práticas deste que é o maior dos projetos de DW. Com uma área armazenada de aproximadamente 70 terabytes(*), o famoso DW começou a germinar nos idos de 88, quando a empresa montou em DB2 no mainframe uma série de consultas baseadas em painéis ISPF(TSO) para ajudar na recuperação de informações gerenciais. Desenvolvido inicialmente como um Data Mart para controle de POS(informações sobre Point of Sale) ou terminais de venda ,orçado em US$20 mi, o projeto evoluiu anos depois para um DW corporativo através da incorporação gradativa de novos assuntos e aplicativos. Seguiram o modelo middle-down moldado pela prática e diferente dos preceitos teóricos de gurus que apregoam um inalcançavel modelo integrado global. O livro navega por assuntos interessantes para os variados níveis de curiosidade. Mostra gerencialmente os aspectos de uma busca incessante por ROI(Return of investment), para a comprovação do retornos de projetos desta natureza . Para os mais letrados no assunto traz também uma série de modelos dimensionais relacionados ao projeto, centrado no segmento de varejo, com descrição de tabelas fatos e dimensões. O livro ilustra com perfeição uma frase dita por Sam Walton, dono da empresa que falou: “ Quase tudo que tenho feito na vida , eu copiei de alguém”. Significativa para o pai do homem mais rico do mundo, ela confere autenticidade. O Projeto do DW da empresa foi iniciado meses depois que eles souberam que o arqui-competidor KMart, já havia iniciado um projeto de BD para controle da tripla loja/produto/semana. Copiar e fazer melhor. Este é o lema deles. Assim o fizeram.

(*)-Nota do autor: Hoje o DataWarehouse do WallMart se aproxima de algumas centenas de terabytes.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Quem não vê, mas enxerga(III)

No final dos anos 70, a equipe da então TI da Cemig havia empreendido um esforço conjunto e comprado uma máquina de digitar em Braille, a fim de facilitar as coisas pro lado do João , já, naquela época, um brilhante e habilíssimo programador de computadores. A máquina escrevia em Braille, que João lia com a rapidez de um coelho de desenho animado e datilografava com a destreza de um catador automatizado de milho....
Naquele momento, chegou às nossas mãos uma notícia interessante: Um engenheiro americano, pai de uma filha cega, havia inventado uma sofisticada máquina para leitura de caracteres tradicionais, escritos em que língua fosse. A máquina era algo do tamanho de um gravador de cassete da época, e funcionava baseada numa micro-câmera que transformava o caracter lido em pulsos elétricos que acionavam uma matriz de pequenas agulhas, que, por sua vez, moldavam a forma da letra escaneada. Ou seja, quando a câmera focava uma letra A, por exemplo, o formato da letra, um triângulo com um corte no meio era sentido pelo dedo indicador do seu usuário, justaposto no receptáculo onde ficava a tal matriz de agulhas. O deficiente lia, em alfabeto universal, por alto relevo, por assim dizer. Letra a letra, ia montando mentalmente a sintaxe das palavras, a semântica da frase e costurava o seu contexto. A equipe da TI, imediatamente iniciou um projeto de comprar a máquina, chamada OPTACOM. A compra era um grande lance de ousadia. A máquina era importada, custava quase o equivalente a um Wolks zero na época, além de diversos pontos de dúvidas a respeito da adaptação do usuário deficiente que tinha que canalizar a sua sensibilidade para a ponta do dedo indicador. Imagine o quanto isso produziu de brincadeiras e octanagens. Essas bobagens o faziam delirar, especialista que era em duplo-sentido. Na época, a equipe conversou com pretensos usuários da máquina, e todos haviam desistido nos primeiros testes de sensibilidade. Eu me lembro que , numa ida a São Paulo, procurei por um deficiente visual, também programador, do banco Itaú, que me falou das enormes dificuldades e da sua desistência do Optacom. Em suma, um projeto de altíssimo risco, dadas às condições de preço, adaptação e da burocracia infernal que o Governo impunha para se importar algo. Pesquisamos e vimos que era mais fácil importar um Jaguar do ano do que a tal máquina. Como a equipe da TI sabia o que aquilo representava no desenvolvimento profissional de João ,decidiu-se por tocar o projeto. Fizemos uma rifa de uma televisão e o restante do dinheiro necessário, foi emprestado pela Forluz. Resolvida a parte financeira, faltava equacionar o aspecto da importação e da sensibilidade do dedo indicador, que João garantia haver desenvolvido muito bem, sem explicitar detalhes do como.... A equipe da TI, através de pesquisas, chegou a uma instituição em São Paulo, chamada Fundação para o livro do cego do Brasil, hoje Fundação Dorina Nowill para cegos. Essa instituição, fundada pela senhora que lhe confere o nome, foi o gesto maior de uma rica paulistana que resolveu dedicar parte de sua fortuna à nobre causa de aliviar um pouco o fardo das pessoas cegas no Brasil. Ela também é cega.
Bingo.. Falamos com a Fundação, que nos informou que poderiam intermediar a importação, mas antes exigiam um teste do pretenso usuário num Optacom de que dispunham, devido à extrema dificuldade que o aparelho apresentava na adaptação. A equipe da TI, montando uma operação de guerra, conseguiu uma passagem para João ir a São Paulo, a fim de se submeter ao teste decisivo. Aproveitando uma ida minha a São Paulo, a serviço, ajeitei uma entrevista com a equipe da Fundação. E lá fomos nós, eu e João , em direção a Fundação do Livro do cego do Brasil.
A instituição, uma espécie de último reduto de deficientes visuais de todas as idades(de recém-nascidos a anciões), sugere logo no seu primeiro contato, o quanto somos aquinhoados por termos a faculdade da visão perfeita, sentido que transformamos no nosso canal de comunicação mais importante, eficiente e informativo.
Na sala de testes, após rápida entrevista, a instrutora colocou João no Optacom separado e ficamos(eu e ela) num outro terminal, por onde fluíam letras isoladas, de tamanhos diferentes e em velocidades que ela aumentava ou diminuía, na medida da dificuldade de sua identificação. Depois viriam frases compactas e textos mais longos. No outro lado, João com o dedo indicador espetado no Optacom, teria que interpretar as letras que estavam fluindo, como num letreiro de teleprompter.
Regras colocadas, o teste se iniciou. A primeira letra, João não consegue identificar, Nem a segunda. A partir da terceira começa a dar sinais de uma percepção sensorial fora do comum. O tal dedo que João garantira estar treinado, não perdia mais uma As letras se sucediam na tela do computador, enquanto João passava a identificá-las montando frases , como se fosse um vidente em transe psicográfica. A instrutora continuou e depois de algumas baterias a mais, me falou:
___Poucas vezes vi isso na minha vida. Pode comprar o aparelho imediatamente. Vamos discutir a importação, disse ela...Compramos o aparelho e João usou desde então.Por muitos e muitos anos, o aparelho foi o seu grande aliado. Ele lia telas de terminais, impressões de computadores, livros e apostilas e até bula, bastando trocar a câmera, cada qual adaptada a um tipo e tamanho de escrita. Mais uma vez, João mostrou a sua capacidade de pulverizar dificuldades, que para nós os mortais seriam intransponíveis. Essa é a figura singular de João, que estudou Administração na Federal escutando textos gravados pela sua esposa, transformando-se em brilhante analista de sistemas e continua a ensinar que não existem grandes obstáculos, mas apenas vontades menores de vencê-los. Esse João, que não sabe como são as formas do mundo, o rosto dos amigos, as feições de suas belas filhas, também não tem nenhuma referência sobre as cores. Esse João aprendeu a ver o seu mundo, livre de limitações geométricas e todo pintado de azul, cor aliás que ele não sabe descrever com palavras, mas entende com o seu coração de cruzeirense apaixonado....

sábado, 25 de julho de 2009

Quem não vê, mas enxerga(II)

Certa ocasião, convidei João para almoçar comigo. Fazia isso algumas vezes, não só pela amizade e pela possibilidade de estar aprendendo com ele, mas também para fazerem os meus filhos começar a refletir sobre o conceito efetivo do que é dificuldade. Meus filhos o tratavam de Tio João e , pela idade, transbordavam uma curiosidade natural quando o viam chegar comigo, pilotando uma bengala branca e óculos escuro. Eu sempre aproveitava para transformar a curiosidade das crianças em aprendizado de vida, contando-lhes como João vencia os obstáculos, que eu próprio às vezes esconjurava, em lamentos freqüentes do meu cotidiano. Certa vez, numa das idas para um almoço, fomos conversando amenidades quando João me perguntou se eu ia sempre de carro para almoçar. Na época, eu morava na Rua Tenente Garro, quase esquina de Contorno, e lhe respondi que sim, que evitava ir de táxi, mesmo sob a possibilidade de, na volta, não ter uma vaga para estacionar nas imediações da Barbacena. Usando expressões irrefletidas, falei
___João, táxi é muito caro. Eles cobram o olho da cara.... Um segundo após, eis que ele me responde:
___ Então, eu poderia ter vindo, pois não tenho um e pagaria com o outro que é de vidro.... Será que o taxista aceitaria?.... Numa incomum demonstração de paz interior e de pleno domínio das agruras da vida, ele me deu uma resposta, com um viés que sempre foi a sua marca registrada: a irreverência com que debochava das fendas enormes que o destino lhe colocava no caminho. Isso tanto no sentido figurado, quanto no sentido material. Algumas vezes, ele foi parar no fundo de buracos abertos pela concessionária de telecomunicações de MG, inconseqüentemente deixados sem a devida sinalização. Algumas empreiteiras, consideradas de visão, não enxergavam um palmo a frente do nariz. Menos do que ele, dizia João, esgrimando a sua verve de irreverência .
Chegamos para o almoço.Na época, o meu prédio era de 3 andares,mas existiam mais outros dois abaixo do nível da rua.. Assim, quem parasse no último nível de garagem, como fiz naquele final de manhã, teria que subir o equivalente a 5 andares, pois o prédio, por ter 3 andares oficiais, não tinha elevador.. Na realidade, tinha 5 andares , mas dois estavam escondidos....
Subimos os 5 andares, eu aplicando os conhecimentos de acompanhante de cego, que ele próprio me ensinara. O guia não segura no braço do cego. O cego simplesmente toca o braço do guia, deixando-se levar sem apertos e amarras.
Depois do almoço, iniciamos o retorno, em direção ao carro, estacionado no último nível da garagem, cinco andares abaixo. Percebi então, que João , embora guiado por mim, fazia o caminho de volta, descendo as escadas com muito mais rapidez e desenvoltura e sem usar a bengala como sinalizador de degraus e patamares. Quando chegamos na Cemig, lhe perguntei intrigado, o porquê daquela rapidez inesperada e impressionante, próprio de um menino serelepe descendo degraus que conhece como a sola dos pés.
____Simples, meu caro. Na subida, eu fui contando os degraus e os lances de escada. São 70 degraus e 10 lances, afora o degrau de chegada na última garagem. Na descida de volta, fui simplesmente diminuindo a contagem . Sem problema. Eu sabia, que num intervalo de almoço ninguém constrói mais degraus numa escada já existente. Não daria tempo.......
Esse é o João . Rápido nos números e hábil em usá-los a favor dos seus amigos. Até hoje, passados mais de trinta anos, ele telefona religiosamente para minha casa todos os dias 06/03, 13/05, 07/04 e 31/03 para abraçar os seus amigos, que aprenderam com ele, coisas que não teriam aprendido sozinhos.... Nunca a sua matemática se esqueceu de um dia sequer...

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Quem não vê, mas enxerga

Vamos chamar o nosso personagem de João , nome real, de uma figura que muitos conhecem na Cemig, principalmente na área da TI-Tecnologia da Informação e com quem, aliás, aprendi muito na minha vida, como veremos abaixo. O João , tornou-se deficiente visual , quando menino ainda afinava varetas de pipas e acidentou-se aos nove anos. Daí em diante, trilhou o caminho que só os grandes vencedores costumam percorrer com brilho, principalmente num país cheio de dificuldades intransponíveis, mesmo para os que dispõem dos recursos de duas retinas e dois nervos óticos. Sem falar, naqueles que mesmo com todo esse aparato, fingem não ver.....
O nosso causo começa então, já com João trabalhando na área de Informática, nos idos dos anos 80. O nosso personagem, cumpria a sua jornada diária, saindo de sua casa e chegando à sede da Barbacena, como carona, ajudado pela boa vontade de um outro companheiro, que chamarei de Sávio. Na época, o transporte solidário não era tão comum, e neste caso, tornou-se fundamental devido à facilidade oferecida a João , numa espécie de busca e “delivery” diário movido pela solidariedade do amigo. O ritual era sempre o mesmo: Sávio estacionava nas imediações da Barbacena, e juntos seguiam para a sede, onde trabalhavam no 3. andar. O João , costumava ensinar os que sempre o ajudavam, instruindo-nos, na condução correta dos deficientes visuais. Coisas que aprendeu no Instituto são Rafael, onde foi mais mestre do que aluno. No saguão, pegavam o elevador, naquela época já lotado e chegavam ao terceiro andar. Lá postavam-se na fila em frente ao relógio de ponto, para as devidas marcações. Sávio marcava o seu ponto e João , sem ajuda, roçava o costado da mão ao longo da ficheira e localizava imediatamente o seu cartão, sem errar uma única vez Batia o cartão e pronto.. Ambos, com os pontos marcados, seguiam para a mesa de João , onde Sávio o deixava para iniciarem o trabalho do dia. Isso aconteceu por anos a fio, sempre com o mesmo ritual. Um certo dia, ambos estavam postados na fila para fazerem a marcação do ponto, quando Sávio percebeu algo de errado: Os cartões não estavam na ordem que sempre se encontravam e Sávio não conseguia encontrar o seu.
___ João, mexeram nos cartões e não estou encontrando o meu e nem vi o seu também, disse o amigo, com um ar de estranheza interiorana.
João , deu um passo adiante, e disparou o mesmo algoritmo que sempre fizera desde sempre. Roçou a mão por entre os cartões, e analisando mentalmente a disposição deles, por entre espaços vazios e preenchidos, disparou, após segundos de reflexão:
___Sávio, não mexeram nos cartões. A disposição das fichas não bate por completo. Não foram eles que mexeram nos cartões. .... Nós é que descemos no andar errado.... Não estamos no terceiro andar......
Sávio, assustado, olhou para as placas de identificação e constatou que a lotação do elevador os havia levado a descer no lugar errado. Assim, simples como o capim..
Daquele dia em diante, a TI aprendeu a sutil diferença entre os que vêem e os que enxergam. João deu a todos nós a lição, de que na vida não basta aprender a ver, tem que saber enxergar.....

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Meu nome é ninguém

Artigo publicado em Fevereiro de 2001
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Sempre tive certa curiosidade por nomes de empresas e mais especificamente pela genética usada na sua criação. No nome de uma empresa se concentra a sua força , personalidade e o magnetismo de sua identificação. Algumas empresas compuseram o seu logotipo com iniciais de nomes dos inventores, como HP, criada por David Packard e William Hewlet, dois colegas do curso de engenharia da Universidade de Stanford, onde se conheceram num campo de futebol daquela universidade em 1930. A sigla EMC, da gigante da indústria de storage, conta a lenda, representa as iniciais de seus fundadores, dois dos quais ainda permanecem na empresa e o outro, que teria saltado do projeto ainda no início da aventura em Boston, hoje é dono de um simpático restaurante italiano perto cais, naquela cidade. Numa conversa com um amigo, presidente de uma joint venture global recentemente criada, fui informado por ele das dificuldades de se cunhar um nome razoável que já não esteja registrado pelo mundo afora. No caso, a AVANADE, nome da empresa “joint” entre a ex Andersen Consulting e Microsoft é uma marca absolutamente neutra, desenhada por especialistas e produzida apenas por sílabas que se concatenam de forma sonora e estética, nada mais. Não é palavra existente e não traz consigo nada de implícito e esta parece ser a tendência desta nova fase de identificação corporativa global. O cuidado óbvio é a produção de um vocábulo que além de plástica, possua uma sonoridade que não crie embaraços em outras línguas e culturas. Um empresa recentemente criada com o fonema “vaia” no seu nome talvez possa ser um exemplo dessa natureza. Me lembro das primeiras empresas de Informática, que obrigatoriamente continham radicais como SYS, PRO, SIST, COM, DATA, TEC, PROC, etc, combinados das formas mais variadas. Depois, com a fase WEB, apareceram as formações como DataWeb, WebCom, Webdata, Comweb, etc e até dizem que foi feita uma proposta de uma empresa chamada Web Camargo para uma famosa apresentadora da TV brasileira. A tendência por nomes “clean” é acentuada , como pode ser observado no novo nome da ANDERSEN CONSULTING que passa a ser chamada ACCENTURE, numa linha light, neste caso com claras intenções de dissociação atávica. A parceira da Cemig, Southern Energy, passará a se chamar MYRANT, numa busca pela nova tendência por nomes originais e com visibilidade. GENUITY é o nome de uma nova empresa que sai da poderosa GTE para prover serviços de Internet e NEXXA é o novo nome da Technosource. Ao meu amigo, Paulo César, que inspirou a criação deste texto, ficam os créditos. O nome dele: PC Faria, é figura sempre presente em reportagens que contam sobre os embaraços dos homônimos...

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Despedida via internet

Publicado em Abril de 2001. Texto enviado aos colegas da Cemig, quando me aposentei.
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Dentre as mais paradoxais utilidades estabelecidas para um micro-computador ligado em rede, uma se destaca: a sua aparente missão de substituir as cartas e os carteiros de ante-ontem. Esses dois elementos sempre foram instrumentos líricos de comunicação e inspiraram obras primas como “O Carteiro e o Poeta” e “Nunca te vi, sempre te amei”. Sempre se incumbiram de levar as mensagens caracterizadas pela entrega física e individual de seu conteúdo, colocados à porta do destinatário . Uma carta, um telegrama ou um bilhete físico foram substituídos pelos e-mail de hoje, criando uma atmosfera onde se perde o encantamento do papel, a estética do envelope e o contato táctil na manipulação de suas folhas. Os e-mails hoje, úteis mas controversos, trazem a frieza das mensagens empacotadas, a mesmice dos envelopes digitais e a despersonalização das assinaturas pré-fabricadas . Importantes pela rapidez e imaterialidade de sua essência, mas custosos e cansativos pela forma invasiva com que as vezes nos chegam. Estatísticas aterrorizadoras apontam que grande parte do tempo de um internauta de hoje é consumido na eliminação dos lixos digitais a que somos submetidos pela internet. Os e-mails, como as cartas de antigamente, podem conter mensagens singelas como o capim , mas diferentemente das outras, os digitais servem de base para mecanismos com os quais se criam falsas intimidades. Desconhecidos fazem chegar ao seu quarto, no respiro da noite, mensagens que nem os amigos mais próximos conseguiriam fazer, na época dos estafetas de carne e osso. Chegam a nós pela força dos átomos e pela imaterialidade do protocolo, tão diferentes quando comparados com os tempos das velhas missivas. Como tudo tem sempre um lado positivo , os e-mail se postam, entretanto, como uma forma boa de dizer adeus. De produção rápida e de clonagem imediata, eles cumprem bem a missão de passar informações sobre colegas que se desligam das empresas e apontam seus novos rumos. Canal adequado quando se deseja a hipotermia das emoções. Uma das formas menos desconfortáveis de dizer adeus aos amigos é mesmo através do teclado dos computadores. Dessa maneira, você simplesmente tecla 5 letras num e-mail e com mais alguns comandos SMTP a palavra Adeus, viaja via TCP/IP para pousar discretamente na caixa de entrada dos seus colegas. Fica lá guardada até o próximo delete ou shut down, eventualmente se retém por alguns meses em um disquete, e até mesmo pode permanecer na memória dos amigos por um tempo indeterminado. Para alguns, até o próximo cafezinho. Para outros, até a última molécula de oxigênio. Esta forma prática de despedida evita os abraços e a força magnética das lágrimas induzidas. Uma forma marota de evitar uma espécie de exposição de sentimentos, tal como um existia nas cartas de despedidas de ontem. A frieza digital a serviços do drible das lágrimas . As lágrimas, por sinal, são uma interessante demonstração da força da natureza dos homens, tão cheia de dicotomias invisíveis. Julgadas erradamente simples gotas de tristeza na despedida dos amigos, elas servem também para dissolver o cisco incômodo que nos machuca em dias de ventos fortes. Só recentemente o homem sintetizou a lágrima, dizem os jornais. Conseguiu criar em laboratório uma substância, com as mesmas estruturas complexas de sua composição. Artificial, como algumas que conhecemos, mas suavizante como a original. Talvez um dia consigam também criar um mecanismo para contê-las. Até lá, os amigos se despedirão dos amigos, com ela por perto.....

Sobre os livros






Tenho dois livros editados, que foram escritos baseados nas experiências na empresa onde trabalhei e nos diversos projetos de consultoria de que participei.
Ambos estão esgotados, não propriamente por seus méritos, mas sim por demérito das editoras escolhidas por mim, que hoje desapareceram do mercado, como sumiram os últimos vestígios de honestidade e probidade neste país. O livro de Business Intelligence-Modelagem e Tecnologia, será reescrito, com nova abordagem e pretendo lançá-lo até o fim do ano. O outro, de modelagem de dados, poderá evoluir para algo como modelagem de informações, conhecimentos, etc, quando esses assuntos(mais especificamente o último) estiver mais maduro. O livro de BI continua com certa procura, pois é um dos poucos, senão o único(não tenho certeza), sobre o assunto, escrito por autor brasileiro. O outro que existia, foi retirado após uma batalha que empreendi contra a editora e o autor, por plágio. Ganhei a causa, que sequer foi contestada em instâncias superiores da Justiça. Recebi indenização por danos morais e materiais. O autor, copiou, via scanning, uma dúzia de páginas do meu livro, sem ao menos, fazê-lo constar nas referências bibliográficas.As vezes a gente sente que a Justiça nesse pais funciona, principalmente quando somos os vencedores da causa!

terça-feira, 21 de julho de 2009

Inundação de informação-CW junho/2001

Agora entendo um pouco mais a idéia de sociedade de informação. No início, achei que o conceito se atinha somente aos aspectos técnicos de se produzir bancos de dados e Data Warehouse para armazenar estoques infindáveis de campos textos e binários, devidamente cozidos e condimentados pelas necessidades de negócios das empresas. Hoje, associo este conceito à inundação de informação. Recebo, sem exageros incontidos, mais de uma dezena de revistas “físicas” por mês e outras tantas virtuais, pelas quais, diga-se de passagem, não tive, sequer o protocolo da solicitação. Fazem parte do novo conceito desta sociedade de informação, onde a democracia do conhecimento está sendo aquecida , movida claro, por instintos comerciais indiretos. São oferecidas nos mais variados sabores e assuntos e convergem para a irreversível tendência das publicações pagas pelos anúncios e não mais pelos assinantes. De você, os editores desejam o folhear das páginas, eventuais comentários na seção de cartas e o simples engrossar das estatísticas de leitores. Dos anunciantes, buscam intermediar o seu interesse como leitor, mesmo que você na prática, somente toque as capas e não consiga tempo para a digestão de tal self-service de informação. Você, desempenha uma espécie de anonimato bem vindo, onde vale a premissa codificada(no velho Fortran) de leitor = leitor + 1. Você será selecionado por vários mecanismos caçadores dentre eles, o seu id(e-mail) vagando pelo espaço físico ou virtual da sociedade. Essas publicações atacam um vasto espectro de assuntos, sempre centrado naqueles de maior holofote no momento. Gravitam pelas fronteiras sempre interessantes entre a tecnologia e negócio e se apresentam com nomes com voltagem e decibéis elevados como Ponto-Com, Business Intelligence, e_Commerce, CRM, ERP, atrelados a subtítulos como World, review, Management, etc . Trazem, por vezes, artigos bem construídos e de elevado interesse e nos momentos de baixa fecundidade de inspiração recheiam as suas páginas com informações como a opinião de Bill Gates sobre a morte ou a marca do notebook de Bin Laden, encostado ao seu lança granada no bunker-office do Al Qaeda. Embora sem custo direto, essa nova postura de popularização de informação apresenta como ônus, a impossibilidade física de seu consumo. Embora, sendo a informação considerada oxigênio e ouro em pó, estamos na boca de vivermos a síndrome do seu excesso. Com tal avalanche de publicações, despejadas semanalmente no seu escritório, abrem-se três problemas: O primeiro, a busca de uma técnica(ainda não desenvolvida pela ciência), de captura extra sensorial para transferência direta de conteúdo intelectual seletivo, a ser disparada pela simples avaliação dos títulos e chamadas de capa. Algo como uma absorção mediúnica de informação por banda larga. A segunda, a contratação de uma estrutura de logística para o controle e administração dos particulares armazéns(de revistas) de informação, que estaremos montando, caso não consigamos exercitar com destreza , o hábito do seu descarte imediato . E a terceira, a criação de uma nova ordem da Informática, que batizo, desde já, de Information Choking(asfixia por informação), que por sinal, terá uma revista gratuita mensal distribuída para os seus praticantes.........

Heróis dos bits e bytes-19/05/2003

Você já reparou como a Informática, via de regra, não costuma decantar muito os seus heróis? A informática, no seu voluptuoso viés de fazer dinheiro, prima pela divulgação de seus mitos, mas não de seus heróis. O que vemos nas capas das revistas são figuras de semi-deuses como Bill Gates, Michael Dell , Scott Mac Nealy e Louis Gestner que construíram ou reformataram impérios, galgaram o topo da pirâmide Forbes no ranking das fortunas, mas estão longe de ser heróis. Tiveram grandes méritos pela visão empreendedora, mas não produziram um “breakthrough”, por assim dizer. Diferem dos Mandrakes das nossas antigas revistas de quadrinhos. Heróis para mim, são os outros. O cara que inventou o display de plasma fininho que nos permite aliviar os problemas de lordose e escoliose(entortamento de coluna) ao carregarmos os notebooks pra cima e pra baixo. O cidadão que pensou no mouse, como uma engenhoca maravilhosa que nos faz pilotar essas máquinas titubeantes, como se as dominássemos com a ponta dos dedos. O outro, Linus Torvalds, que modificou o velho Unix e criou o seu clone barato, gratuito e universal. Esse, até que costuma ser badalado mais do que os anteriores. De maneira geral eles não circulam pelos sites da hora e raramente aparecem nos textos do tecno-modismo. Na 6a feira, 18 de Abril(*), morreu um desses heróis. Quase de forma anônima. Isolado no sul da Flórida, para onde convergem os idosos americanos em busca do aquecimento final, o Dr Edgar F. Codd faleceu aos 79 anos. A atual geração de DBA’s e analistas de suporte provavelmente pouco ouviu falar deste senhor baixinho, calvo, de rosto redondo, com quem tive oportunidade de conversar por longos 30 minutos, numa tarde de Junho de 1983. O Dr Codd simplesmente criou o modelo relacional, fomatação de bancos de dados de maior aceitação desde a invenção do conceito, nos idos dos anos 60. Quando o mundo de bancos de dados se debruçava sobre as complexas estruturas encadeadas de hierarquias e grafos, para construir sistemas e programar códigos, esse senhor, matemático de formação, via ali uma outra possibilidade. Os dados poderiam ser tratados com uma capa algébrica, semelhante àquela aprendida pelos meninos nos colégios, onde operadores de união, seleção, intersecção e produto cartesiano permitiam manipulações padronizadas. Com isso foi aberto o espaço para a linguagem SQL, que ele ajudou a definir nos laboratórios da IBM de San José. Pouco antes de se aposentar, em 1983, conversei com o Dr Codd num seminário no RJ, onde a IBM promovia o lançamento comercial do seu novo produto de Bancos de Dados: O DB2. Ele me falou, com certo desapontamento, sobre a distância entre as suas idéias teóricas fervilhantes e as “features” relacionais , ainda modestas, implantadas no primeiro release do produto. O DB2 teve o seu DNA de origem centrado no sistema R, protótipo relacional desenvolvido no meio dos anos 70, totalmente calcado nas teorias do Prof Codd. Recentemente, uma revista da IBM, dedicou especial atenção aos 20 aninhos do produto DB2, que embora tenha perdido o bonde do ineditismo para Larry Ellison e seu Oracle , foi o precursor conceitual de todos os SGBD da estirpe relacional. Falou sobre a sua história, entrevistou os antigos desenvolvedores, e mostrou o seu acoplamento com o futuro(XML, dados espaciais, etc). O prof Codd, não foi citado. Deve ser duro morar num país, onde os heróis não são mais lembrados alguns anos depois dos seus feitos......

(*)-2003

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Artigos do CWorld

Durante 15 anos escreví uma coluna(no início mensal e depois quinzenal) para o ComputerWorld. Parei em 2002 ou 2003, não me lembro ao certo. Foram quase 200 colunas. Comecei em 1988, quando ainda a internet patinava. Existiam as BBS´s, como provedores. Naquela época eu era assinante da BBS(Louca) e as primeiras assinaturas de endereço eletrônico nos artigos, que estreamos naquela época, me renderam interessantes retornos(barbieri@louca.com.br), ou algo assim.Essa publicação(CW), ainda hoje em circulação, é uma das mais prestigiadas publicações na área de TI, mas acabou perdendo o seu vigor, com a inundação de informações que a Internet proporcionou a todos os seus leitores. Muitos dos artigos que escreví focavam diretamente em tecnologias emergentes, que hoje, cheiram a bolor. Mas, sempre tive uma preocupação, de escrever sobre os efeitos colaterais ou os aspectos humanos que circundavam aquela proposta em questão, alertando para os efeitos dos modismos que sempre pautaram a nossa querida TI. Pretendo fazer desse blog uma tribuna livre para repensar alguns dos assuntos sobre os quais escreví há tempos. Assim, publicarei aqui alguns dos artigos, que entendo, tenham ainda alguma atualidade, ou possuam algo que nos permita discutir, mesmo que em tom de saudade. Aqueles cobertos de penicilina serão descartados, pois não serviriam nem para profilaxia da gripe suína.

domingo, 19 de julho de 2009

Inicio de tudo

Estou iniciando esse blog, visando criar um espaço onde eu possa postar idéias, percepções, opiniões sobre temas variados que gravitam no meu domínio de interesses: tecnologia em TI, cultura, política e futebol