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segunda-feira, 27 de março de 2017

Governança e Gestão de dados na prática-Parte V


Canvas-MGD-P´s da Governança e Gestão de dados:

Chegamos nos P´s da Governança. Esse ponto representa o mecanismo complementar do Canvas-MGD, discutido anteriormente. Aqui colocamos os pontos relacionados à Governança de Dados, com aqueles conceitos(coincidentemente) começados pela letra P. É puramente  um artifício mnemônico, para se gravar elementos fundamentais que deverão ser pensados , quando da implementação de um Programa de Governança.
O P de “problemas” já foi, de certa forma, discutido no Canvas anterior, sendo a gênese de tudo isso. Trazido do Canvas MGD, os problemas poderão ser melhor detalhados, conforme a Matriz de problemas de dados, na figura 07, que mostra a sua incidência, de acordo com as áreas mais impactadas. Os problemas são analisados em maior detalhe e identificadas as áreas/domínios de dados que serão contempladas na sua resolução.  


                             Figura 07-Matriz de problemas

A partir dai, começaremos a abordagem pelos P´s do domínio da solução, ilustrados na figura 08.


                                         Fig 08-Canvas dos P´s da Governança de Dados

Os P´s da Governança e Gestão de dados, estão definidos, a seguir :

Patrocínio:
Esse é um dos fatores críticos de sucesso na implementação de um programa de Governança e Gestão de dados nas empresas. Dai a importância de se ter levantado com cuidado os possíveis retornos em termos de negócios, seus impactos, etc. Envolve a conscientização do alto “board” da empresa, principalmente da área de negócios, onde os problemas de dados normalmente repercutem. Um programa dessa natureza deverá ter o apoio da TI mas não deverá ser uma proposição de cunho tecnológico. Deverá ter origem nas áreas de negócios, onde dados sensíveis representem elementos de valor. Os impactos e custos negativos de problemas de dados são itens que devem compor a linha de argumentação e de convencimento. Estudos de casos de negócios específicos podem ser feitos e um deles pode ser a análise atual dos dados críticos, via Profiling, quando se analisa aspectos físicos de integridade, completude, precisão, etc dos dados. Aqui os dados selecionados para o estudo de caso devem ser os mais sensíveis aos aspectos de compliance/aderência ou os que podem trazer impactos de reputação e /ou perdas financeiras. É botar o olho nesses dados e saber da qualidade de seu conteúdo, que por vezes, escondem ao longo de milhões de registros e fontes dispersas, problemas sérios. Também uma avaliação sobre a cultura e propensão da empresa para programas dessa natureza, que implicam mudanças culturais, pode ser feita  para se aferir os possíveis níveis de aceitação do programa. Conversas de “elevador” ou reuniões formais com o alto “board” ajudam a detectar essas tendências. Projetos estratégicos de dados como levantamento da Qualidade de dados das principais fontes de dados, resolução de Compliance, uso de Big Data com Data Science, MDM(Gerência de dados mestres), DW/BI, etc podem servir como elementos alavancadores de iniciativas como essas e são definidos como “projetos triggers da Governança e Gestão de dados”, tornando mais espessos os aspectos de patrocínio necessário.

Exemplo prático:
Comece analisando as gerências envolvidas nos domínios dos problemas apresentados. Olhe bem o “Where” no Canvas passado e a Matriz de Problemas, na figura 07. Esses são os primeiros targets da abordagem de busca pelo patrocínio, pois sentem (ou podem sentir) os problemas mais diretamente. Neste item, os problemas levantados relativos aos riscos de compliance junto à ANSS, associados com os aspectos de impactos de reputação no mercado, através de reclamações de atendimento(pesquisadas, por exemplo via mídias sociais) formam um forte embasamento para a busca de patrocínio de um programa de dados na empresa. Uma verificação anterior sobre a propensão demonstrada pela empresa para aspectos de mudanças pode dirigir a forma de abordagem na busca desse patrocínio. Dados factuais, como indicadores/métricas de qualidade de dados estratégicos(Clientes, Atendimentos, Parceiros, Registros de doenças, etc), detectados por ações de Profiling de dados também podem servir como grande instrumento de convencimento, principalmente se apresentarem discrepâncias e pontos fora da curva. Lembre-se que aspectos de multas vultosas por problemas de “compliance” e arranhão na reputação, principalmente quando se trata de saúde, são dois fatores extremamente “convincentes”. 
   
Princípios e Políticas:
são as grandes regras, definidas por consenso e aprovadas, atualizadas e respeitadas pela organização, legislando sobre os dados. Os Princípios são elementos mais filosóficos e as Políticas mais normativos e regulatórios. As Políticas são aplicadas e exigidas em diversas etapas do ciclo de vida dos dados. Poderemos ter políticas para a criação, replicação, uso, armazenamento principal e secundário, arquivamento e eliminação dos dados. Aspectos mais específicos do ciclo de vida dos dados como segurança, propriedade(ownership), distribuição, documentação, privacidade, qualidade, etc   deverão ser também objetos de regras ou políticas, criadas pela interlocução da Governança de dados, investida dessa autoridade, com as áreas de negócios envolvidas e, logicamente, com a TI. Esses elementos, depois de criados, devem estar armazenados de forma facilmente acessível e constantemente revistos e melhorados. O Portal da GD, por exemplo,  um núcleo de informação e conhecimento sobre Gestão e Governança de dados é uma boa ideia para se iniciar uma GD documentada e conhecida.

Princípios:  Considerações e exemplos:
·       Dado é um ativo e portanto deverá haver  responsabilidade final sobre eles(“accountability”). Os dados e seus conteúdos de todos os tipos  são considerados ativos da mesma forma que os outros tipos como ativos físicos, materiais e financeiros, exigindo, dessa forma, procedimentos de controle organizacional similares;
·       A informação deverá vir de uma fonte autorizada, estar disponível, ser precisa, íntegra e sem ambiguidade, além de passível de ser compartilhada e catalogada(metadados). Soluções de dados/ informação manterão estrito alinhamento com o negócio da empresa respondendo às suas necessidades e às requisições das áreas envolvidas;
·       O valor do dado está no aspecto intrínseco que ele retorna para empresa, agregando e melhorando os seus objetivos operacionais e negociais. A Governança de dados deverá respaldar esse princípio;
·       A Governança de dados é um programa de negócios e como tal suas definições formalmente aprovadas, deverão igualmente governar a interação da TI com dados, da mesma forma que a interação da área de negócios, com esses mesmos ativos;
·       A Governança de dados é responsabilidade compartilhada entre Gestores de dados de áreas de Negócios em parceria com profissionais de TI, que atuam nas diversas gerências de dados(Arquitetura, BD, DW/BI, Segurança,etc) . A união lógica e funcional entre a Governança e a Gerência dos dados, forma o conceito maior de Gestão de Dados;
  • Cada programa de Governança e de Gestão de dados é único e deve-se levar sempre em conta as características específicas de cada organização e de sua cultura;
  • Os melhores gestores de dados já existem e não são feitos. Devem ser escolhidos entre os que já estão envolvidos com dados nas suas respectivas áreas e demonstram interesse nessa nova forma de tratamento desses ativos;
  • A tomada de decisão “compartilhada” é a marca da Governança de Dados, envolvendo as diversas camadas definidas no seu corpo operacional; 
  • Há uma separação implícita entre as funções de GD e de Gerência de dados. O Comitê de Governança de dados, o Comitê/Conselho de Gestores de Dados e as equipes de gestores realizam as responsabilidades “legislativas”(definem os P´s)  e judiciária s(julgam sua devida aplicação). As equipes de Gerência de dados(Bancos de dados, BI, Segurança, Qualidade, Operações, etc), em conjunto com os Gestores de dados, realizam as funções executivas(aplicando, administrando, coordenando, servindo e protegendo os dados, respeitando os P´s) através dos preceitos definidos pela Governança;
  • A organização deve definir o seu modelo operacional de GD, que deverá conter (em linhas gerais) uma camada executiva de apoio de alta gerência, que garante patrocínio, investimento,etc; um grupo que forma o Board de GD, composto pelos gerentes seniores, CDO, owners de dados, que se posiciona no escalonamento final das pendências(issues), seguido por uma área tática , onde estão os líderes dos gestores de dados e por último, a camada operacional onde se posicionam os gestores de dados de negócios e de TI. Ali também estão os Especialistas(SME-Subject Expert Matter), alguns dos quais são transformados em gestores de dados,  investidos das funções específicas de GD nas suas respectivas unidades de negócios;
  • Cada empresa deve ter a sua estratégia de dados, como um guia para as atividades de Governança e de Gerência de Dados na empresa. Normalmente uma estratégia de dados tem os seguintes ingredientes:  
    • Missão(o que se pretende que a organização seja, em termos de dados), visão( a imagem do futuro), objetivos gerais, objetivos específicos, com todos os aspectos baseados nos principais objetivos de dados do negócio; Escopo do programa estratégico de dados; Benefícios de negócios; Eventuais  lacunas identificadas no estado atual de tratamento de dados, via pesquisa ou análise de maturidade; Responsabilidades e papéis de alto nível; Lista de envolvidos; escopo da Governança de dados; abordagem usada para o desenvolvimento do programa de dados; medidas/indicadores para  acompanhamento do programa; e um roadmap de alto nível, com os principais passos a serem seguidos.
Políticas: Considerações e exemplos:
Políticas são regras mais objetivas, diretas e regulatórias, aplicáveis para ajustar comportamentos, reduzir riscos, definir responsabilidades, etc. Devem servir de elementos de criação de elos e parcerias entre as partes da empresa envolvidas na GD. É importante que as políticas sejam criadas estritamente para alcançar controles objetivos, aplicáveis, usáveis e divulgados, evitando excessos e elementos burocráticos que geram impedimentos e desmotivação. As políticas deverão ser criadas, baseadas em processos simples e normalmente se originam de Legislações vigentes e de Políticas organizacionais. Devem ser focadas em objetivos e políticas de negócios, objetivos de dados, objetivos de Governança e Gerência de dados e aspectos culturais e estruturais. Alguns exemplos:
       Objetivos de negócios:  definir políticas para reduzir riscos, envolvendo as áreas de segurança, compliance, dados sensíveis, relacionamentos com clientes e parceiros,etc; 
       Objetivos de dados: Políticas para prevenir o uso inadequado de dados, como replicações descontroladas, para garantir a captura, armazenamento, proteção, segurança e privacidade de dados, políticas para promover o entendimento do significado e contexto dos dados e para garantir a qualidade e disponibilidade de dados;
       Objetivos de Governança de dados e Gerência de dados: Políticas para Governança de dados, como corpo Legislativo e Judiciário dos dados da organização;
       Políticas para os diferentes elementos que formam os processos de dados(corpos de conhecimento) como Arquitetura de dados, Desenvolvimento de dados, Bancos de dados, Big Data, IoT, Qualidade de dados, DW/BI, Segurança, Metadados, etc. 
       Exemplos:
       Qualidade de dados:
      Toda a informação e os dados da empresa serão seletiva e gradativamente  gerenciados e medidos na sua qualidade. A qualidade será consistentemente aferida para garantir que o dado será usado no seu propósito definido.
      Haverá gestores de dados responsáveis  pela integridade  e qualidade dos dados e seus conteúdos ao longo das suas unidades organizacionais;  
       Colaboração no uso dos dados:
      Dados organizacionais serão compartilhados como um recurso ao longo da empresa. Os dados deverão ter “ownership/accountability” definido, ou seja uma área de negócios que será a responsável final pela sua definição, metadados e regras de negócios.
       Gerência de Risco:
      A Governança de Dados acompanhará a análise de riscos dos dados que exigem “compliance” garantindo sua aderência com todas as leis federais, estaduais, municipais, estatutárias, políticas e regulações. Um acompanhamento apropriado e rigoroso será realizado para verificar essa compatibilidade(aderência).
       Segurança:
      Todas as senhas (passwords) deverão ser trocadas a cada 3 meses, com alteração completa de seu conteúdo e a proibição do uso das 4 últimas ocorrências;
      Todas as senhas (passwords) deverão conter até 10 caracteres, com obrigatoriedade de no mínimo 2 dígitos.
       Privacidade:
      Os dados da empresa que estiverem sob o efeito regulatório do GDPR-General Data Protection Regulation, da União Europeia, deverão estar no controle estrito da Governança de dados e de seus gestores responsáveis e merecerão um tratamento especializado, via CSO-Chief Security Officer, caso pertinente.
       Arquitetura de Dados:
      Dados organizacionais serão compartilhados como um recurso ao longo da empresa. Dado organizacional não é um recurso que pode ser possuído com exclusividade por áreas específicas da empresa.
      Todos os modelos de dados no nível lógico deverão estar compatíveis com os modelos conceituais organizacionais e deverão ser aprovados, segundo políticas definidas para tal.
       Dados Mestres e Referenciais:
      Os dados considerados Mestres e de Referências somente poderão ser modificados  pelos Owner/Gestores ou por exceção, por decisão da GD, via o Comitê de Gestores de Dados envolvidos nas áreas dos assunto pertinentes. 
       Compliance:
      As Políticas para Normas regulatórias deverá contemplar e refletir sobre : O quanto a norma é relevante e importante para a organização; como é a sua interpretação;quais políticas e procedimentos estão envolvidos na norma;se já existe padrões existentes que podem ajudar; se a organização já apresenta “compliance atual com a norma; Como se dá esta conformidade; como deverá ser a conformidade no futuro; como se demonstra e comprova a conformidade; como se monitorar os aspectos de conformidade;com que frequência a norma será revista; como identificar e reportar as não-conformidades; como gerenciar e corrigir as não-conformidades.
       Alinhamento com aspectos culturais e estruturais:
      Deverão ser revistos periodicamente os aspectos relacionados ao valor dos dados, do ponto de vista do negócio ou do ponto de vista de mercado e de possível monetização.
      Dependendo do porte e da geografia da empresa, aspectos relacionados a centralização ou descentralização das funções de GD, com a definição de contexto para a aplicação de suas definições, deverão ser analisadas e /ou revistas.
       Os dados básicos de uma Política são: identificação, definição(statement), objetivo e racional, escopo, aplicabilidade e exceções, monitoração, violações e escalonamento, papéis e responsabilidades, promulgação, validade e revisão, documentos anexos, procedimentos, caso haja e contatos. 

Padrões: Considerações e exemplos
Padrões são normas e especificações  definidas para regular a forma de nomes e estruturas de elementos em geral, documentos, desenhos, esquemas, dados, metadados, etc. Poderão ser usados padrões de modelos, de nomenclatura de processos e padrões de dados (nome, endereço, telefone,etc). Também poderão ser considerados padrões específicos da indústria (dependendo do negócio), padrões de metadados(ISO 11179, ISO 15836), etc. Os padrões deverão ser definidos em conjunto e aprovados por todos os envolvidos na GD e Gerência de dados.  Os principais tipos de padrões são: padrões de nomes, de metadados, para aspectos regulatórios, para especificação de requisitos de dados, padrões de modelagem de dados, projetos de bancos de dados relacional e NoSQL,padrões para dados em IoT,padrões para replicação e integração de dados, padrões de arquiteturas, padrões de procedimentos de cada área de conhecimento de dados.

Exemplo prático:

Neste item podemos, após o entendimento dos “princípios” de dados da organização,  desenvolver algumas Políticas e Padrões que regularão aspectos relacionados aos dados envolvidos nos problemas apresentados e discutidos no Canvas MGD. Por exemplo, Políticas de Profiling periódicos de dados, poderão ser definidas sobre os dados mais críticos, visando a prevenção e mitigação de erros recorrentes que podem comprometer os aspectos de compliance e/ou reputação no atendimento de consultas. Políticas de “Compliance”, aderentes às normas da ANS deverão ser definidas, visando o acompanhamento das regulações e atendimento às notificações e glosas recebidas,etc. Políticas de Privacidade e Segurança sobre dados de atendimentos, doenças e tratamentos deverão ser analisadas e consideradas, com foco nas regulações existentes e vindouras como GDPR(General Data Protection Resolution) e de proteção aos dados de identificação pessoal(PII-Personal Identifiable Information ).Claro, que outras politicas poderão ser desenvolvidas, aplicadas em outros assuntos pertinentes aos aspectos de dados, comentados dentro desse contexto de problemas apresentado.

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