Imagine um grande pais, com visível
potencial tecnológico, uma vasta extensão territorial, com alto grau de pobreza
e como consequência(ou causa?) uma enorme taxa de corrupção. Agentes políticos
intermediando e desviando recursos que deveriam chegar às camadas mais
necessitadas. Problemas de pessoas não identificadas, envolvidas
involuntariamente, laranjas, fantasmas etc. Desenhou o cenário? Pensou em algo
da sua vizinhança? Pois bem, não é nada disso. Estamos falando da Índia, que se
prepara nesse momento para aplicar conceitos de Big Data, se não na solução,
pelo menos na mitigação desses problemas. Como? Através de um grande projeto de
Banco de Dados que objetiva o cadastramento de 1,2 bilhão de indianos, contendo
dados como nome, endereço, sexo, data de nascimento, além de 10 impressões
digitais e de duas impressões de íris. Associado a esses dados estruturados e
não estruturados, uma PK(chave primária, chamada de adhaar) de 12 dígitos
complementará o gigantesco acervo de informações, no qual o governo joga suas
esperanças de acabar com o anonimato de muitos milhões de indianos, residindo, na
sua grande maioria, abaixo da linha de pobreza. O Banco de dados poderá ser
acessado de qualquer ponto do país, via rede telefônica/móvel e permitirá que
os mais pobres possam ter acesso a contas bancárias, programas de apoio do
governo e outros benefícios, hoje negados pela espessa máquina burocrática que
cria dificuldades para vender facilidades, num modelo há muito praticado por
países de nossa visceral intimidade.
Números: O projeto foi planejado
para 10 anos, ao um custo aproximado de US$3 por identificação, o que leva a
inimagináveis quase 4 bilhões de dólares, significativo principalmente para um
pais que tem mais que tem 400 milhões de pessoas na linha da miséria e em que
50% de suas crianças abaixo de 5 anos estão na categoria de abaixo do peso
natural. Mas o povo indiano tem , nesse projeto, o apoio e solidariedade dos
grandes magnatas da informática, muitos deles responsáveis por aquela que é
considerada a segunda maior economia em
crescimento do mundo. O Banco de Dados, resultante do projeto, conterá 1,2
bilhão de registros, 10 bilhões de
impressões digitais e 2,44 bilhões de imagens de íris. Esse depósito, será,
muito maior do que o atual BD chamado US-Visit, aquele que registra impressões e
informações de mais de 100 milhões de visitantes que chegam aos EUA,
pertencente ao Homeland Department. Aquele mesmo que armazena as suas digitais,
quando você chega à Nova Yorque, por exemplo e fica naquela fila, misturado a
uma população de estrangeiros, sonhando com a Big Apple.
Gerentes: Para viabilizar um projeto
dessa magnitude, o Governo Indiano foi buscar o apoio financeiro e a
competência técnica no seu Vale do Silício(região de Bangalore), de onde trouxe
Nandam Nilekani, o mentor da gigantesca Infosys, um conglomerado mundial de
130.000 colaboradores e faturamento na casa de US$30 bilhões anuais e que está
aqui também, bem pertinho de nós, em Belo Horizonte, onde possui um núcleo
atuante.
Oposição: Claro que existem muitas
forças contrárias ao projeto. Desde a estrutura burocrática do estado indiano,
parte dela interessada na manutenção do “modus operandi” atual, que produz as proteínas necessárias para
engordar a corrupção, até os movimentos de preservação de segurança e
privacidade.
Essa é mais uma visão de Big Data e
o potencial de seu uso. Um conjunto gigantesco de dados, devidamente limpo e
estruturado em sistemas acessíveis, via cidadão comum, atendendo objetivos
inspiradores, que focam a pessoa e sua qualidade de vida. Os dados em altíssimo
volume podem contribuir para se estabelecer a verdade dos fatos de forma mais
apurada. Permitem análises sobre amostras mais representativas, proporcionando
um maior rigor analítico. É importante ressaltar que de nada vale todo um acervo estratosférico de
dados se não houver preceitos de qualidade aplicados a eles e também sobre os players(coletadores, atualizadores, administradores e
analisadores) de um projeto dessa natureza. Imagine a dificuldade de aplicação
de um projeto dessa magnitude por aqui. A começar pela falta de vontade de se
resolver problemas com efetividade, preferindo-se sempre o assistencialismo
adocicado que pouco contribui, além da terrível possibilidade de se entregar esses trabalhos
para as ONGS, que se regalariam com os bilhões de seu orçamento.
Nenhum comentário:
Postar um comentário