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quinta-feira, 13 de agosto de 2009

A internet e o cerebelo de Gerken

Artigo publicado em janeiro de 2003, em homenagem a Joel Gerken

Há quem diga que a Internet é a grande revolução social deste momento pororoca entre os dois séculos que presenciamos como testemunhas declaradas em cartório. Frase, relativamente gasta, mas de uma verdade compulsória. A grande teia tem provocado mudanças óbvias, algumas delas exaustivamente autopsiadas por esses retângulos de papel da mídia impressa e códigos html da mídia eletrônica. Exemplos de compra eletrônica, empresas em tempo real , jornais virtuais, etc . Outras, menos óbvias aparecem no nosso dia a dia e tocam dimensões por vezes imperceptíveis ou desconhecidas. A internet tem modificado certos vocábulos das línguas clássicas. Surfar, agora pode ser sem prancha., na língua inglesa. Navegar é preciso e pode ser realizado, somente tendo o Google, como bússola. A palavra portal, de uso bastante específico na nossa língua e, segundo Aurélio, com um foco arquitetônico: “A porta principal, ou o conjunto das portas principais, dum edifício nobre, ou de templo, em geral artisticamente ornamentadas” ou circulatório com “pertencente ou relativo à veia porta”, é um outro exemplo. Guindada ao conceito de entrada virtual dos grandes sites, a palavra foi trazida também para a nossa língua para definições mais abstratas. Recentemente, em viagem pela região de Minas, onde os campos das vertentes flertam com as montanhas da Mantiqueira, encontro Mindurí, pequena cidade auto denominada o grande portal do eco-turismo do sul de Minas. Nada físico, nenhum pórtico, mas tudo tão imaginário, quanto sugeriu a internet e um saboroso contraste entre o virtual do termo e os contrafortes do sul mineiro. Um outro exemplo de força da grande rede, veio de um amigo dileto. Surpreendido por um problema de saúde repentino e não explicado por vários médicos de São Paulo e BH, esse antigo analista de sistemas recorreu ao pronto socorro virtual das informações disperso na grande rede. Fez buscas intensivas, participou de chats, mergulhou em grupos de interesse, sempre em busca de algo que pudesse explicar, ou pelo menos sugerir, o mal que se aproximava, e que produzia sérios “interrupts” de alguns de seus periféricos(braços e pernas). Depois de muitas informações pacientemente elaboradas e discutidas com um jovem neurologista do Hospital Vera Cruz, foi feito o diagnóstico. O cerebelo, pequena engenhoca atachada à parte posterior da placa mãe do cérebro, começava a dar sinais de abends e desregulou a produção do liquor, espécie de envólucro hídrico do nosso backbone (medula). Como , infelizmente, nem todos os nossos componentes foram projetados para ser “fault tolerant”, e o cerebelo não é “hot swappable”, a saída foi esticar um tubinho que drenasse o liquor em excesso, diretamente para o intestino, criando um salvador segmento de rede, sem hubs ou switchs. Depois de 6 cirurgias, este amigo, outrora condenado, segue uma vida (praticamente) normal. Almoçamos juntos, uma vez por mês, e acabei testemunha da tenacidade de duas pessoas: Um leigo paciente, mas determinado analista de sistemas, que acreditou na força da informação dispersa na rede. Soube , extrair, filtrar, analisar, tal como um analista de Business Intelligence e tomar decisões, como um usuário. O outro, um jovem médico desafiador do impossível. Essa é a internet e suas influências. Resolvi escrever essas linhas, para garantir a veracidade desta história, que poderia ser confundida com outras ficções que circulam pela grande nuvem. Tal como o mundo real, a grande teia é cheia de imperfeições e virtudes. O negócio é ser como os nordestinos e encostar sempre no lado bom da rede....

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