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sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Entrevista sobre BI- Revista Fonte-Prodemge

Perguntas a Carlos Barbieri- Entrevista dada à revista Fonte-Prodemge 2. Semestre de 2006

1. Quais são as tendências mundiais no uso de tecnologias de BI? Observando o mercado, quais são as perspectivas para o crescimento e para a diversificação no uso dessas tecnologias?
Resposta: Depois de ficar estacionada desde o seu início nas áreas de varejo, marketing, finanças e correlatas, a tecnologia de BI se expande em direção a novos segmentos de aplicações: As aplicações de BI nas áreas de Biologia, de tratamento de dados não estruturados, como documentos e e-mail e a especialização em informações de auditoria, apoiando as aplicações no campo de SOX(Sarbannes Oxley) são as novas tendências desse tipo de tecnologia. As tecnologias acessórias de BI, como Mining, qualidade de dados, ferramentas de extração e produtos de visualização de dados, continuam, por sua vez, numa trilha de evolução constante . Na área de web, os chamados Webhouses continuam em passo lento, com algumas evoluções, como a livraria virtual Amazon, que acaba de trocar seu banco de dados de clickstream (controle de clicks de um usuário por entre as páginas web de seu aplicativo), por um DW de 25 terabytes, buscando uma melhor forma de rastrear os passos de seus clientes nas andanças pelas suas prateleiras virtuais . Outra tendência que se consolida é o chamado BI operacional, ou a aplicação dessa tecnologia em dados mais próximos do dia a dia, tentando preencher um vazio que as ferramentas de consulta a Bancos de Dados não conseguiram e que se torna importante nas empresas. Essas aplicações de BI, digamos, instantâneo, chamadas de tempo real, focam em segmentos de negócios onde a distância entre o fato acontecido e a informação a seu respeito deve ter uma latência próxima de zero, pois o tempo para tomada de decisão é curto. Isso acontece em segmentos de call center, por exemplo, ou em empresas , onde o controle e o remanejamento de estoques é fator crítico. No campo das investigações e pesquisas, o BI deverá evoluir em conjunto com a gerência de conhecimento e suas próximas fronteiras, como gerência do entendimento(understanding manegement) e gerência da sabedoria ou intuição(wisdom management).
2. Decisões dependem não só da qualidade das informações disponíveis, mas também da capacidade do gestor de interpretá-las e usá-las na escolha das melhores alternativas. Na sua opinião, quais são as competências desejáveis ao executivo (usuário) num projeto de BI?
Resposta: BI é uma tecnologia de transformação e não solicita nada de especial de os seus consumidores de informações, a menos de certa destreza na pilotagem de ferramentas de interface gráfica e um senso analítico agudo nas suas interpretações. Esse “insight”, entretanto hoje já é muito ajudado pelas metáforas visuais que muitos produtos oferecem, como velocímetros, com ponteiros mostrando faturamento, ou gráficos coloridos de todos os formatos e sabores apontando tendências e fatos. Para aplicações mais sofisticadas, como análise preditiva, as técnicas de Mining já exigem um pouco mais de conhecimento dos seus usuários, por certa demanda de conhecimentos estatísticos.
3. Em que medida uma organização tem que adequar previamente seus processos e procedimentos para implantar a tecnologia de BI?
Resposta: Como já falei anteriormente, BI é meramente uma tecnologia de transformação e de análise. Transformação, no sentido de trabalhar as montanhas de dados que foram empilhadas durante décadas nos Bancos de dados transacionais e transformá-las em cubos ou estruturas dimensionais mais palatáveis e consumíveis por camadas táticas e estratégicas da empresa. Sendo assim, uma organização que caminha em direção a BI deve fazer algumas perguntas óbvias: Quais os meus objetivos diretos com essa adoção? Tenho os dados necessários para atingir os objetivos, ao transformá-los em informação? Se a empresa responder de forma convincente essas duas perguntas, os outros passos dependerão de fatores triviais, embora críticos, como investimento, apoio da alta direção e algum conhecimento ou busca da técnica e da tecnologia.

4. O desenvolvimento de um ambiente de BI traz impactos à cultura da organização? Que orientações o senhor daria para facilitar a assimilação da tecnologia, especialmente em organizações públicas?
Resposta: Não entendo que a técnica de BI traga uma mudança cultural, abrupta mas sim é fruto de novos momentos, onde as informações são demandadas com maior liquidez. BI pode ser vista como uma evolução das aplicações de bancos de dados, comuns desde os anos 80, que alcançaram os objetivos de armazenamento de dados, mas não o de provimento amplo de informações. As organizações públicas ou privadas que desejarem ingressar neste novo momento, deverão responder as 3 perguntas feitas no item anterior e decidir seus caminhos em função de suas respostas. Deverão atentar para os seu objetivos, conscientemente definidos, os dados já estocados na organização ou os que eventualmente precisam ser buscados no mundo exterior, e criar a disposição de comprometimento com um projeto que pode ser complexo e longo.

5. Considerando a intangibilidade do valor da informação, como o executivo pode perceber as vantagens de investir em BI, uma tecnologia que exige investimentos consideráveis? Especialmente no setor público, onde os recursos são de forma geral escassos, como equacionar essa questão?
Resposta: O grande direcionador de BI se deu com o aumento de competitividade das empresas, que decidiram conhecer melhor os seus clientes e seus hábitos (chamado de BI analítico), criando assim, uma ferramenta que ajudasse na capacidade de mantê-los cativo. Isso evoluiu para á área financeira, com análise de perfis de riscos, etc. Ou seja, a essência de BI surgiu , tendo a competitividade como mote. As empresas públicas, pelas suas características não vivenciam diretamente os aspectos de competitividade, pelo menos até agora. Sendo assim, o BI aplicado nas empresas públicas deve ter um foco mais qualitativo, no sentido de melhorar a informação daquele tipo de serviço ou consumidor e se aprimorar, se não pelo medo do , mas pelo sentido de bons serviços a oferecer. Os projetos, nas empresas de menor oxigênio em investimento, devem ser cuidadosos, primando sempre pela criação de depósitos (datamarts) setoriais de informação , factíveis de implementação em menor prazo e possíveis de sucesso em certos segmentos da organização, com um investimento relativamente menor.

6. Que cuidados especiais são recomendados na implantação da tecnologia de BI em organizações públicas, considerando-se suas peculiaridades em relação às organizações privadas: mesmo grau de exigência dos contribuintes e limitações próprias do setor.
Resposta: A última parte da resposta anterior serve como resposta para essa questão

7. Como compatibilizar a administração dos recursos tecnológicos e dos recursos humanos no desenvolvimento de uma cultura de BI?
Resposta: Da mesma forma que se administra a introdução de qualquer tecnologia, observando que é fundamental : a)Ter objetivos bem definidos para se formar uma base sólida, longe de modismos voláteis, b) Iniciar com um forte comprometimento da alta gerência e com a criação de motivações pelos novos desafios c) Prover e incentivar a qualificação das pessoas na tecnologia recém introduzida

8. Comente a afirmação de Davenport de que a ecologia da informação “devolve o homem ao centro do mundo da informação, banindo a tecnologia para seu devido lugar, na periferia”.

Resposta:Entendo que Homem e tecnologia estão condenados à uma vida conjunta, até o fim dos tempos. Com o crescimento populacional e a crescente demanda por comunicação, lazer,prazer, fazer, e porque não, viver, dificilmente essa dupla estará divorciada, a menos de puristas ecológicos e ermitões conceituais, que cultivam uma solidão encenada ou se apaixonam por platitudes de momento.

9. Como quantificar o valor da informação no contexto empresarial, relacionando-a com outros recursos da organização?
Resposta: O conceito associado ao valor da informação vem de muito longe, mas nunca teve uma cotação tão efetiva como agora, justamente na era, dedicada ao seu conceito. Entretanto, ainda persiste uma grande dificultar em se metrificar o seu valor . Por ser absolutamente intangível, e somente materializada por volumes de petabytes, o valor da informação tem sido motivo de propostas diversas, que possam expressar o seu real valor agregado. Uma das mais interessantes é a concebida por Bernard Liautaud, fundador da BO(Business Objects), que se utilizou dos conceitos de Bob Metcallfe para redes ethernet e definiu escala de valoração para a informação . Para os interessados, ver a referência : e-Business Intelligence-Benard Liautaud, with Mark Hammond, editora McGraw Hill, 2001

10. Que elementos o senhor considera determinantes para o sucesso de um projeto de BI?

Resposta: Apoio da alta gerência, objetivos firmes e definidos, boa camada de tecnologia à disposição e cuidado em se evitar projetos agigantados, pois esses têm quase sempre, o seu obituário definido antes de começar.

11. E que fatores apontaria como eventuais responsáveis pelo fracasso na implementação de um ambiente BI?
Resposta: A inobservância dos pontos acima definidos

12. Qual a sua opinião sobre a questão ética em ações de mercado baseadas na análise e uso de informações relativas a clientes e empresas?

Resposta: Esse é um aspecto cada vez mais tratado com cuidado em sociedades, onde os valores de ética são considerados relevantes e praticados. Nos EUA, o uso de informações de empresas aéreas sobre viagens e viajantes nacionais e internacionais foi amplamente questionado, como ponto flagrante de quebra de privacidade. Embora, em nome de uma causa nobre (prevenção anti-terrorista) , diversos movimentos questionaram e até anestesiaram, em certo grau, tais iniciativas. No Brasil, onde a ética e o saco de lixo se encontram com freqüência, há muito tempo, diversas editoras de revistas vendem(ou vendiam) o seu cadastro de assinantes, como base para produção de mala direta, num flagrante desrespeito aos conceitos da confidencialidade . Hoje o comércio de endereços de mail substituiu essa prática e pode ser obtido sem grandes dificuldades nos labirintos escuros da internet. Os depósitos de BI podem conter um grande volume de informações sigilosas, que vão desde o perfil de saúde de um cliente de planos assistenciais, até apontadores de inadimplência de tomadores de empréstimos. Diferentemente dos bancos de dados tradicionais, onde essas informações poderiam estar espalhadas por entre tabelas relacionais difusas, nos DW(DataWarehouse ou DM(DataMarts) elas podem se encontrar consolidadas e relacionadas ao tempo. Isso, sinaliza para um cuidado maior neste particular.
Recentemente, os jornais noticiaram, que diversos cadastros, ou partes deles oriundos dos bancos de dados estratégicos de órgão públicos federais podiam ser obtidos nas esquinas da Praça da Sé em SP. . Pensando bem.... num país como o nosso, onde até urânio é suspeito de enriquecimento ilícito, esses aspectos estão no longe de serem prioridades com valores importantes.

13. O tempo é elemento determinante na tomada de decisões num mercado dinâmico e competitivo. Como compatibilizar essa necessidade com o período necessário à implantação de um projeto de BI?

Resposta: Os aspectos temporais e fatores críticos para se criar uma solução de BI já foram discutidos em questões anteriores. O tempo, no aspecto de dimensão fundamental no uso de BI, está associado ao conceito de BI-Real Time. Os conceitos de BI-Real Time centram na idéia de se conectar estruturas relacionais existentes ou depósitos de informações transacionais, às camadas de utilização através de interfaces dimensionais amistosas. Essas soluções híbridas, entretanto tem sempre o dom de resolver parte dos problemas, mas produzir outros, ficando, assim o seu usuário, na posição de analisar a sua efetividade, fora dos anúncios e da oratória dos vendedores.

14. As peculiaridades do desenvolvimento de um projeto de BI e de suas ferramentas podem ser acolhidas pela estrutura tradicional de TI de uma organização? É recomendável a existência de uma área específica para essa finalidade?

Resposta: Houve uma época, nas décadas de 80 e 90, que as empresas criaram estruturas organizacionais voltadas para a administração de dados, espécie de vizinhos conceituais de porta dos DBA’s(administradores de bancos de dados). Essas estruturas foram sendo pulverizadas, na medida em que o surto de ERP(pacotes aplicativos prontos) chegou às empresas, especificamente na virada do milênio. Como os pacotes já vinham pré-cozidos e com os seus modelos definidos de fábrica, nada restava para se administrar de dados, a menos de seus inputs e de seus relatórios de saída. Essas áreas, ou o que remanesceu delas são, na minha opinião, fortes candidatas a assumirem o foco de administração, agora de informações e de conhecimento, numa nova fronteira que se avizinha. Nessa área, estariam os analistas e projetistas de informação, centrados nas premissas de BI.

15. Qual a formação recomendada a profissionais que atuam especificamente com BI?

Resposta: Os profissionais de BI devem ter senso analítico profundo, conhecimentos de estruturas e modelos de dados(relacionais e dimensionais) e habilidade em ferramentas de interfaces e de extração de dados

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