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terça-feira, 21 de julho de 2009

Heróis dos bits e bytes-19/05/2003

Você já reparou como a Informática, via de regra, não costuma decantar muito os seus heróis? A informática, no seu voluptuoso viés de fazer dinheiro, prima pela divulgação de seus mitos, mas não de seus heróis. O que vemos nas capas das revistas são figuras de semi-deuses como Bill Gates, Michael Dell , Scott Mac Nealy e Louis Gestner que construíram ou reformataram impérios, galgaram o topo da pirâmide Forbes no ranking das fortunas, mas estão longe de ser heróis. Tiveram grandes méritos pela visão empreendedora, mas não produziram um “breakthrough”, por assim dizer. Diferem dos Mandrakes das nossas antigas revistas de quadrinhos. Heróis para mim, são os outros. O cara que inventou o display de plasma fininho que nos permite aliviar os problemas de lordose e escoliose(entortamento de coluna) ao carregarmos os notebooks pra cima e pra baixo. O cidadão que pensou no mouse, como uma engenhoca maravilhosa que nos faz pilotar essas máquinas titubeantes, como se as dominássemos com a ponta dos dedos. O outro, Linus Torvalds, que modificou o velho Unix e criou o seu clone barato, gratuito e universal. Esse, até que costuma ser badalado mais do que os anteriores. De maneira geral eles não circulam pelos sites da hora e raramente aparecem nos textos do tecno-modismo. Na 6a feira, 18 de Abril(*), morreu um desses heróis. Quase de forma anônima. Isolado no sul da Flórida, para onde convergem os idosos americanos em busca do aquecimento final, o Dr Edgar F. Codd faleceu aos 79 anos. A atual geração de DBA’s e analistas de suporte provavelmente pouco ouviu falar deste senhor baixinho, calvo, de rosto redondo, com quem tive oportunidade de conversar por longos 30 minutos, numa tarde de Junho de 1983. O Dr Codd simplesmente criou o modelo relacional, fomatação de bancos de dados de maior aceitação desde a invenção do conceito, nos idos dos anos 60. Quando o mundo de bancos de dados se debruçava sobre as complexas estruturas encadeadas de hierarquias e grafos, para construir sistemas e programar códigos, esse senhor, matemático de formação, via ali uma outra possibilidade. Os dados poderiam ser tratados com uma capa algébrica, semelhante àquela aprendida pelos meninos nos colégios, onde operadores de união, seleção, intersecção e produto cartesiano permitiam manipulações padronizadas. Com isso foi aberto o espaço para a linguagem SQL, que ele ajudou a definir nos laboratórios da IBM de San José. Pouco antes de se aposentar, em 1983, conversei com o Dr Codd num seminário no RJ, onde a IBM promovia o lançamento comercial do seu novo produto de Bancos de Dados: O DB2. Ele me falou, com certo desapontamento, sobre a distância entre as suas idéias teóricas fervilhantes e as “features” relacionais , ainda modestas, implantadas no primeiro release do produto. O DB2 teve o seu DNA de origem centrado no sistema R, protótipo relacional desenvolvido no meio dos anos 70, totalmente calcado nas teorias do Prof Codd. Recentemente, uma revista da IBM, dedicou especial atenção aos 20 aninhos do produto DB2, que embora tenha perdido o bonde do ineditismo para Larry Ellison e seu Oracle , foi o precursor conceitual de todos os SGBD da estirpe relacional. Falou sobre a sua história, entrevistou os antigos desenvolvedores, e mostrou o seu acoplamento com o futuro(XML, dados espaciais, etc). O prof Codd, não foi citado. Deve ser duro morar num país, onde os heróis não são mais lembrados alguns anos depois dos seus feitos......

(*)-2003

2 comentários:

  1. muito bom artigo, parabéns!

    realmente se ouve falar muito pouco de heróis como Djkistra e Hejsberg por exemplo, é uma pena como a história de nossa área seja tão pouco explorada.

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  2. Carlos, parabéns pelo texto. Perfeito! Realmente é um pena essas pessoas não serem nossos heróis reconhecidos, mas isso nos leva a uma reflexão sobre os gênios: "Será que eles, no ápice de suas idéias, realmente pensam em ser reconhecidos ou apenas querem contribuir para a humanidade com suas 'simples' idéias brilhantes?"
    Um grande abraço!
    Nécio

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