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terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Governança de Dados-Parte-I-Introdução


Qualquer empresa que mantenha intenções de competitividade nesta arena leonina dos anos 201x deverá ter, além da preocupação com a melhoria dos processos, um foco também  no outro lado do espectro: os dados. Essa dualidade entre dados e processos sempre existiu e mostra que esses dois pilares são fatores críticos em empresas que intencionam seguir os caminhos da reputação, via qualidade. Fazendo uma comparação superficial é como entender que um bom prato é fruto de uma boa receita (processo) e de bons ingredientes (dados). Se um dos dois não estiver adequado, o produto final poderá perder em qualidade. Além disso, como a proposta de BI (Business Intelligence) é transformar dados em informações que possam ser usadas para ações analíticas, tomadas de decisões tático-estratégicas e até definições operacionais, a qualidade dos dados que serve como input para o BI se reveste, cada vez mais, de extrema importância. Lembre-se de que BI é um processo fundamentalmente transformador e logo a qualidade do seu input irá refletir diretamente na correção das tomadas de decisões efetuadasNos anos 80, após a consolidação das técnicas de Bancos de Dados, com a cristalização das funções de ABD-Administradores de bancos de dados, surgiu o conceito de Administração de dados(AD). Diferentemente da proposta de ABD(Administração de Bancos de Dados), que objetivava a gerência das bases de dados, a partir do controle centralizado dos seus gerenciadores (SGBD), a AD(Administração de Dados) tinha uma visão muito mais ampla e  penetrava  nos domínios conceituais dos dados . A ideia de AD era criar uma grupo, com visão centralizada sobre os dados, independentemente de onde esses recursos estivessem armazenados(SGBD, ou arquivos VSAM, etc), dando a esses ativos um status um pouco maior do que meros habitantes das estruturas hierárquicas ou relacionais dos gerenciadores. Um pouco mais do que tabelas, chaves primárias, índices, etc. Várias empresas criaram então, esses núcleos de AD, com variantes na sua posição hierárquica. Algumas ousaram colocar a AD em níveis elevados, próximos às gerencias superiores. Uma das que me recordo colocou o AD ligado à vice-presidência  e outras colocaram a AD nas vizinhanças da ABD, devido à afinidade que os dados, no plano físico(SGBD), teriam com os dados no plano conceitual(AD). Espremendo bastante, a prática de AD acabou por não funcionar a contento. O conceito de AD foi aos poucos se diluindo por diversos fatores, sendo o principal a falta de percepção dos dados como um ativo empresarial.  A área de AD, naquela época seria a responsável pela manutenção dos modelos conceituais dos dados, modelando, entendendo, gerenciando, documentando e mantendo sob controle os elementos seminais como entidades, relacionamentos, atributos e regras que gravitam em torno do conceito elementar de dado. Os bancos de dados, antes de serem criados, deveriam passar por um crivo conceitual, mapeando os dados necessários àquela aplicação, com os já existentes e catalogados nos modelos que estavam sob as chaves da AD. Com a fragilidade sobre a percepção corporativa dos dados, que deveriam ser vistos  como um recurso organizacional, mas não eram, as coisas não andaram bem. Os dados continuavam entendidos como combustíveis imediatos para aplicações que se desenhavam e as regras que definiam a obrigatoriedade de  seus controles em modelos conceituais, começaram a ruir. O fato de que a AD estava, na maioria de suas estruturações, colada nas imediações da ABD e subordinada à TI, também serviu, paradoxalmente como alavanca para essa abaixa adoção de AD. A TI, que deveria resolver,  criar  e rodar os sistemas demandados pela empresa, premida pela força dos cronogramas, era a primeira a dar dribles de corpo na AD, liberando a ABD para criar os dados necessários, na forma desejada, e o que era pior, nas duplicações que fossem necessárias. Com a chegada da microinformática e o consequente  aparelhamento computacional nas unidades de negócios, os dados se espalharam mais ainda.  Assim, pela força do imediatismo, a própria TI minou a ideia de AD. Como a TI era, em tese, a “mãe” dos dados, ela própria abortava um conceito, priorizando a rapidez de suas entregas.
Esse foi o primeiro erro fatal: Os dados, que deveriam ser vistos como da empresa, tiveram a sua administração estabelecida longe daqueles que realmente conhecem e entendem esse insumo, ou seja os seus criadores e consumidores, que habitam as áreas de negócios. A TI, mera processadora deles, definitivamente não era o melhor lugar para acolher o conceito de administração de dados. Assim surge a primeira lição aprendida: Os dados não são da TI , são das áreas de negócios e sua administração deve ser do “business” , com a TI tendo um papel de partícipe  muito importante, porém de co-responsabilidade. Diferentemente da administração financeira, de recursos humanos, de materiais, etc, a de dados nasceu no lugar equivocado, inspirado por motivações nobres, porém não firmemente estabelecidas  e nem abençoada pela aquiescência do “business”.
Outro fator importante que contribuiu para essa morte precoce, foi o advento dos ERP´s. Com a aproximação do final do século, o problema do bug do milênio agilizou a necessidade de se buscar soluções prontas que integradas e harmonizadas nos dados e processos, resolveriam uma boa parte das aflições existentes naquele momento. Assim, os ERP´s, como SAP, JDEdwards, Oracle Application, DataSul, etc já traziam no seu arcabouço, os dados já definidos, padronizados e integrados. Isso de certa forma, esfriou as ações da AD, que justamente se preocupava  com esses elementos, que agora vinham prontos, modelados e blindados nos caros e complexos pacotes aplicativos. Dessa forma, por causa desses fatores, dentre outros, a AD passou de uma boa idéia para um conceito com um obituário anunciado. Embora em algumas empresas o nome AD tenha até sido preservado, ele simplesmente  ficou como uma célula inoculada pelo pecado maior: estava sob o controle da TI e sem a cumplicidade da área de negócios. No vácuo do conceito de AD deixado para trás,  surgiram, na maioria das empresas, uma série de problemas que hoje estão potencializados. Bancos de dados, que deveriam em tese, ser depósitos de dados únicos, formando a verdade “única” sobre as informações de consumidores, clientes, colaboradores, materiais etc  falharam no seu objetivo. Hoje são encontrados diversos bancos de dados sobre o mesmo “assunto”, contendo informações divergentes sobre elementos mestres da empresa. Os dados, além de duplicados, foram definidos sob variados padrões semânticos, não permitindo a inferência de que representam a mesma entidade, ou o mesmo atributo. Os dados, incluídos nos Bancos de dados, não necessariamente tiveram a sua metadefinição, ficando atrelado a mnemônicos por vezes ininteligíveis, como cod-cli, ou dat-vc-fat , o que dificulta a sua interpretação. Soma-se à duplicação de dados, o estranho fato de não se saber se, mesmo replicados, eles representam a mesma “coisa”. Com o beneplácito da TI, premida pela rapidez nas soluções, os dados se espalharam em unidades de negócios, habitando sistemas paralelos, ou esquadrilhas de planilhas excel, sobre os quais se perdeu o controle. Dessa forma, os dados espalhados nas corporações não observam hoje aspectos mínimos que garantam: integridade, precisão, disponibilidade, atualidade etc. Com o surgimento dos sistemas de BI turbinados pela necessidade de informações para tomadas de decisões, o problema se potencializou, se instalando, agora, no mundo das informações. Os dados, com seus problemas acumulados,  começaram a produzir informações carentes de credibilidade.
Com o advento da Web, o informática alavancou a criação exponencial de dados. O que era, até então, produto de sistemas estruturados, começou a ser produzido nas formas de emails, clickstream, posts de blogs, redes sociais, etc. Surgiu o conceito de Big Data, já discutido em posts anteriores. Com eles, o problema de qualidade e controle dos dados produzidos ou consumidos na empresa se potencializa pela diferenciação no volume e nos tipos de dados.   
A apatia que se estabeleceu sobre esses importantes ativos organizacionais deverá ser revista com os cuidados demandados pela sociedade da informação. Assim, os conceitos de Governança Corporativa e de TI  foram estendidos  para os domínios de Governança de Dados, visando não somente à organização desses acervos, mas também a aspectos típicos desses novos tempos. Os cuidados singulares com a  segurança de dados, a necessidade da sua definição clara e sem ambiguidade, uma maior fluidez na sua distribuição e um uso democrático e controlado se tornaram alguns drivers dessa nova fronteira.  Além disso, existem alguns vetores apontando para o fato de que em alguns países, a governança de dados poderá ser obrigatória em breve, dentro de uma capa regulatória, que demandará que o valor dos dados seja considerado um ativo da empresa e  que a sua qualidade seja traduzida em métricas, compondo indicadores-chave de desempenho da área de TI. Isso foi definido pelo fato de que a qualidade dos dados implica riscos corporativos que a nova TI e o novo papel de CIO deverão estar preparados para mitigar. Diferente dos tempos quando os dados eram simples combustíveis de programas Cobol, ou eneplicados aos borbotões pelas áreas negociais das empresas, agora eles se tornam elementos fundamentais do capital intelectual da empresa, geradores que são de informação e conhecimento. Só isso....

3 comentários:

  1. muito bom esse histórico da ad. espero que o tcu passe a exigir dos órgão públicos a adoção de políticas de gestão de dados tal qual vem exigindo a adoção de estruturas de governança de ti.

    que venham os proximos posts.

    Andre Luis

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    1. Grato André. Realmente a conscientização sobre a importância e os valores dos dados deve ser cultivada cada vez mais e um bom começo é sempre via as exigências legais.

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  2. AD ou governança de dados não importa o nome. O que importa sim é realmente esta visão corporativa dos dados, voltada à área de negócio e não a questões técnicas da TI. Aqui na instituição temos uma coordenação de AD vinculada a uma unidade de qualidade e governança de TI, com autonomia para instituir políticas relativas aos dados da instituição que tem que ser cumpridas pelas equipes de sistemas. Conseguimos organizar o caos e trabalhamos em cima de conceitos corporativos, integrando os sistemas sem duplicar informação. Tudo depende do perfil do administrador.

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