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domingo, 22 de outubro de 2017

Governança/Gestão e a ética em dados


Introdução:

A Governança de dados, deverá estender os seus corpos de conhecimento em direção a ética no uso de dados. O próprio DMBoK®V2, conforme já discutido aqui neste mesmo espaço, já dedica uma forte e espessa consideração sobre esse novo tema. Na realidade, a ética de dados já tem desdobramentos quando a Gestão e Governança de dados são convocadas para a interação com aspectos de Segurança(um dos corpos de conhecimento do DMBoK®V2). A chegada do GDPR-General Data Protection Regulation, da União Européia, a vigorar a partir de Maio de 2018, já está produzindo, nas empresas mais atentas, essa aproximação entre Segurança e Gestão de dados, com  o encaixe de processos de GD nos já existentes mecanismos do DPO/DSO(Data Privacy ou Data Security) Officer. Dessa forma, além dos aspectos de Arquitetura, Modelagem , Operação de dados, seguido de DW/BI, Dados Mestres e referenciais, Metadados e Qualidade de dados, os conceitos de ética nos dados deverão fazer parte dos Princípios e Políticas de dados das empresas. A chegada de Big Data, IoT e Ciência de dados, claro, vai potencializar essa necessidade, na medida em que teremos um volume maior, mais variado e mais difuso de dados de clientes, empregados, etc. Só que agora, com decisões passíveis de serem produzidas por algoritmos frios de “machine learning”,  e consequentemente com possibilidades de resultados que poderão implicar em embaraços, desconfortos ou prejuízos para pessoas. Recentemente fiz um curso EAD na Universidade de Michigan, com o título “Ethics on Data Science” que veio somar às minhas percepções quando mergulhei no DMBoK®V2 e vi esses conceitos ganharem destaque. Nesse conjunto de artigos, falaremos com mais detalhe sobre esses pontos.

O que é Ética?

A definição de ética é até relativamente simples. Ética é aquele conjunto informal (no sentido de que não está oficialmente escrita) de regras, que nos leva a discernir entre o certo e o errado, fronteira, por vezes não tão claramente definida. Por exemplo, a ética nos faz entregar no setor de  Achados&Perdidos  um celular encontrado no Shopping, ou uma carteira cheia de dinheiro e documentos achado na poltrona do cinema. A Ética difere de legislação, pois esta tem um certo ordenamento jurídico, definido, controlado e aplicado. A ética difere também de religião, onde prevalecem credos e crenças, que aliás, junto com a legislação, ajudam na lapidação dos preceitos éticos. Essas fronteiras da ética não são claramente definidas e percebidas, podendo variar com fatores de educação, criação, exemplos, cultura, etc. Por exemplo: Furar a fila do cinema é uma atitude antiética, mas não necessariamente ilegal(não acho que haja uma lei que proíba furar fila!!). Por outro lado, se você socorrer alguém, à beira da morte, num terrível acidente de trânsito, com impossibilidade de assistência médica imediata e decidir levá-lo a um hospital perto, seguindo na contramão(por impossibilidades variadas no contexto), você estará sendo ético mas tendo uma atitude ilegal (transitar na contramão). Por isso, essas fronteiras se complicam quando chegamos aos dados.  No ambiente organizacional, com os dados em crescimento e os sistemas de IA(Inteligência artificial) sendo desenvolvidos, muitos dos conceitos de ética deverão ser considerados, avaliados e definidos. Por exemplo :

1-É ético a NetFlix saber dos nossos movimentos na sala de TV (Mensagem-Tem alguém assistindo ai?), além de conhecer, pelos nossos dados acumulados, todas as nossas preferências de séries, filmes, etc?. Saber qual o capítulo que foi o desmotivador ou o gancho que te prendeu àquela série? Ter mapeado o seu perfil de gosto, compra, hábitos de assistir,etc? Pelo lado positivo, sugerem títulos mais prováveis para os cinéfilos.
2-É ético os Leitores inteligentes de energia(smart meters) terem os dados que poderão ser usados para inferir sobre a hora em que dormimos, tomamos banho, quando viajamos, ou o consumo de nossos utensílios domésticos? Os de fornecimento de água, terem ideia sobre o momento em damos um  “flush no “toilet” ?. Pelo lado positivo, vem a percepção de possíveis vazamentos, pelo excesso de consumo detectado.
3-É ético o FB conhecer todas as nossas informações de relacionamento na rede social e escolher os “feeds” mais adequados que chegam na nossa linha de tempo? Pelo lado positivo, receberemos teoricamente coisas mais do nosso agrado.
4-É ético os grandes data-brokers, ou agências de crédito, como Serasa-Experian, BV Serviços, Acxiom, Equifax, etc terem informações sobre cada um de nós, dos nossos movimentos de pagamento, inadimplência, créditos, etc e venderem para uma empresa que está avaliando a nossa admissão no novo emprego? Pelo lado positivo, você, como empregador, terá milhares de pontos de dados(nome que eles empregam) acerca de pessoas que você analisa para trabalhar com você.
5-É ético que posts “mal colocados” por você no FB, Twitter,etc, possam ser elementos de avaliação de sua conduta?
6-É ético que os nossos dados de busca no Google sejam mantidos e tratados cuidadosamente, possibilitando revelações sobre doenças, posições políticas e opções pessoais de cada um? Pelo lado positivo, não pagamos nada para acessar a maior enciclopédia já desenvolvida.


7-É ético as operadoras de telefonia terem a completa trilha do seu celular ao longo do dia, na medida em os aparelhos fazem um “ping” com as torres, e poderem saber por onde você anda, a que horas você vai e volta do trabalho, ou até as incursões noturnas em nome do futebol com os amigos?

O tema é controverso e há algumas referências muito boas sobre esses aspectos de privacidade ( não foram escritas agora !)  que, no fundo, nos levam à reflexão sobre a ética dos dados. Já li os dois e recomendo:

a)No Place to hide-Robert O ´Harrow Jr, de 2005
b)Delete-The virtue of forgetting in the digital age-Viktor Mayers-Schonberger-2009


Assim, a ética deverá ser elemento avaliado no contexto de dados da empresa, e a GD deverá estar presente. O Gartner Group aponta que 50% dos problemas relacionados com ética de negócios, serão originados do uso impróprio/inadequado dos dados. Portanto, a GD(Governança e Gestão de dados) terá alguns de seus pilares modificados, quando chegarem(como já estão chegando) os conceitos de Big Data, IoT e Ciência de dados. Depois dos arquitetos de dados, gestores de dados, projetistas de dados, modeladores de dados, custodiadores de dados, poderemos ter os psicólogos ou psiquiatras orientando sobre o uso de dados.. Fiquem atento... 

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