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sábado, 5 de setembro de 2009

Tecnologia dá saudade?

Publicado em dezembro de 2001, adaptado em 2009

Recentemente, por ocasião da visita do presidente da Microsoft ao Brasil, li nos jornais e ouvi de algumas pessoas, referências de saudades ao Word 2.0. Sempre entendi que música e perfume, além de pessoas, eram os ícones clássicos apontados como grandes acionadores das pequenas usinas de saudades que trazemos dentro de nós. Agora, pelo jeito, percebo que chegamos à saudade digital, onde sentimos falta da proximidade de certos códigos ultrapassados. Claro que as benesses tecnológicas que aprendemos a praticar ao longo da vida , por vezes criam certas relações de proximidade com as nossas preferências íntimas, e na informática , não seria diferente. Particularmente, neste caso, não me lembro com saudade do Word 2.0 e me confesso satisfeito com o atual, onde batuco essas mal traçadas linhas. O Gartner Grupo, tem uma curva interessante que mostra como as tecnologias nascem e passam por estágios diversos ao longo do seu ciclo. A análise do GG mostra que toda tecnologia tem um comportamento interessante . Começa numa fase de grande “frisson” , onde um disparo(trigger) a impulsiona numa curva ascendente em direção ao pico de entusiasmo, caracterizado por expectativas sempre infladas com relação aos seus resultados. Neste momento, começa a sua inflexão em direção a uma região de tempo-espaço chamado vale da desilusão, para depois ter um retomada mais consciente e menos inflamada em direção a um platô de convivência, onde terminará os seus dias. O Gartner não previu a fase de saudade que as tecnologias produzem depois do seu necrológico, mas brilhantemente mapeou as etapas de algo que lembra o casamento padrão. As grandes empresas, que debutaram nos anos 60 no cenário da Informática, estão neste momento em constante exercício de despedida de tecnologias , algumas já com fortes traços de bolor. No nosso caso, estamos preparando para redesenhar o vital sistema de sistema de Consumidores, depois de uma infrutífera incursão, em busca de um ERP que o substituísse. Nada encontrado, partimos para a lanternagem doméstica. O sistema, clássico dos anos 70, totalmente escrito em PL/1 e com as suas estruturas de dados montadas nas hierarquias do velho IMS, receberá um banho de modernidade digital e irá se alojar nas telas acrílicas da interface gráfica e nas estruturas relacionais do DB2, embora ainda persistentes inquilinas do velho e indivisível mainframe. Parte de sua competência sistêmica de performance e desempenho, obtida pelos artesãos da época(analistas e programadores) ficará agora sob a responsabilidade de máquinas mais poderosas e de discos inteligentes, numa alusão clara ao fim de uma época, onde o analista sobrepujava a tecnologia. Hoje, muito daqueles esforços que eram concentrados nos códigos de programas, já vem embutidos em caches de discos, otimizadores de bancos de dados e objetos encapsulados. Ponto para a tecnologia e saudade dos fluxogramas e modelos detalhados. A recente onda de substituição de sistemas antigos por ERP produziu muitos descartes desses tipos de códigos, dando vez ao enlatado digital que agora habita as nossas libs. Como a saudade por tecnologias de ontem pode sugerir senilidade digital, prefiro exercitar a saudade de outros códigos. Que tal sentir falta dos códigos de tolerância, de dignidade e de retidão outrora praticados?. Os de hoje, adaptados pelos políticos, vivem em constantes interrupções por erros e com freqüentes não conformidades de processos......

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